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AUTOBIOBIBLIOGRAFIA

Manoel Rodrigues Ferreira


 

AUTOBIOBIBLIOGRAFIA
Manoel Rodrigues Ferreira
1915-2010

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OBSERVAÇÃO

© 2005 — Manoel Rodrigues Ferreira


 

 

AUTOBIOBIBLIOGRAFIA
Manoel Rodrigues Ferreira


 

 

Dedicado à
Memória de


ANGÉLICA TURINI FERREIRA,
minha esposa que, graças ao seu decisivo apoio minhas realizações tornaram-se possíveis.


TITO LIVIO FERREIRA,
meu irmão, com quem realizei um permanente e prolífico intercâmbio de idéias, informações e parcerias autorais.


AMÉRICO BOLOGNA,
meu Professor de Jornalismo a alma do jornal “A GAZETA”, meu grande amigo, e que nunca nos abandonamos.

 


 

 

APRESENTAÇÃO

Por JUVENAL FERNANDES

 

Manoel Rodrigues Ferreira nasceu no Município de Bica de Pedra (hoje Itapuí), Estado de São Paulo, na Fazenda São Sebastião, que seus pais formaram há quase um século e meio, derrubando a mata virgem na beira do Tietê, o Rio Bandeirante. Ele diz si mesmo e de seu irmão mais velho Tito Livio Ferreira:

“Nascemos e fomos criados nesse Sertão, desde crianças montando em animais em pelo, em disparada pelos campos ou em marchas lentas através das picadas na mata, exercitando a nossa plena liberdade, procurando sempre conhecer além dos horizontes, e foi essa nossa independência que também moldou o nosso espírito e caráter, além da fina educação que recebemos dos nossos pais”.

Manoel Rodrigues Ferreira teria que ser, um notável Professor de Matemática e Física, um ilustre Engenheiro, um Desbravador dos Sertões do Brasil Central, Jornalista, Historiador, Fotógrafo Documentarista, Escritor... não houve pois campo da atividade humana em que militasse que não o fizesse com brilho. Conhecido em todo o Brasil pelos seus trabalhos, principalmente na área da Ciência Histórica, é particularmente venerado nos Estados de Goiás, Tocantins, Pará, Mato Grosso, Rondônia e Acre. NENHUM PAULISTA, ATÉ HOJE, ELEVOU O NOME DE SÃO PAULO TÃO ALTO NESSES ESTADOS, COMO ELE O FEZ, PARTICULARMENTE O CENTRO-OESTE.

Os descobrimentos que fez na Documentação do nosso Passado, juntamente com Tito Livio Ferreira, deram DIGNIDADE à nossa História. É claro que isso lhes tem trazido alguns problemas, pois nem todos admitem que aprenderam errado. E também os presunçosos não admitem que alguém saiba mais do que eles, e são esses, dominados por inferiores sentimentos de ciúmes e invejas, os maiores inimigos desses bravos pesquisadores que são os incansáveis irmãos Ferreira, que estão revelando um Passado desconhecido e modificando o que está errado, enfim, fazendo uma Nova História, a Verdade.

Seria ocioso salientar nesta breve Apresentação, tudo que se acha nas páginas desta fantástica AUTOBIOBIBLIOGRAFIA, que mostra-o de corpo inteiro, totalmente devotado a uma causa, a de lutar pelo nosso Povo, pelo nosso País. Realizou pois, Manoel Rodrigues Ferreira, uma OBRA DE GOVERNO, mas o fez completamente só e gastando somente do seu dinheiro, que é o seu bem pessoal ganho honestamente, tostão a tostão.

Eu, o Autor desta Apresentação, venho há muitas e muitas décadas acompanhando Manoel Rodrigues Ferreira nos seus empreendimentos culturais, sempre me orgulhei de sua companhia e sinto-me honrado em ser convidado por ele, para fazer esta Apresentação, aliás desnecessária, pois a melhor apresentação que ele pode ter é esse verdadeiro Relatório das suas atividades, constante desta sua Autobiobibliografia.

No Século XIX na França, dois irmãos, Edmond Goncourt (1822-1896) e Jules Hoot de Goncourt (1830-1870), que brilharam no campo da cultura, deram origem à hoje célebre

ACADEMIE DES GONCOURT

No Brasil, os irmãos Tito Livio Ferreira e Manoel Rodrigues Ferreira, que vêm brilhando muito mais na nossa Constelação das Culturas Humanista e Científica, já deram também origem à

ACADEMIA DOS FERREIRA

E eu como quase todos, também participo dela.

 

São Paulo, Abril de 2003

 

JUVENAL FERNANDES é historiador, autor da biografia “Carlos Gomes: do Sonho à Conquista” e do “Dicionário da Música Brasileira” (inédito). Secretário Geral da Academia Paulistana da História, da Ordem Nacional dos Bandeirantes, do Prêmio Clio de História e da ONG da História do Brasil Documentada.

 


 

 

À feição de Prefácio

 

PREZADO LEITOR

 

Este livro é um balanço do que fiz da minha vida durante 62 anos (1941 – 2003). Mais precisamente, é o Livro Razão do que realizei nesse tempo em beneficio do meu povo, da minha gente, do meu País.

Em suma, a Razão da minha Vida.

Por esse meu desprendimento nunca cobrei nada de ninguém, absolutamente nada, quer do Estado, quer de pessoas jurídicas ou físicas. Para realizar todo esse trabalho, nos diversos campos de atividade humana, sempre utilizei somente os meus recursos próprios.

Engana-se quem possa supor que venho agora, ao realizar este Documentário, exigir algo da Sociedade na qual nasci e vivo. Mesmo que alguém quisesse me retribuir materialmente, eu recusaria.

Sempre senti-me e sinto-me reconfortado com o Reconhecimento dos meus concidadãos, pois nada mais do que isso almejei e almejo, e é isso em que consiste a alegria da minha Vida, que me dá sentimento interior de tranqüilidade, essa certeza de que sempre só desejei o bem do meu semelhante.

Este pequeno livro é piloto de uma obra maior também escrita exclusivamente com Documentos, que futuramente será publicada.

Meus agradecimentos ao estimado Leitor que se interessou por alguns itens deste volume que lhe podem ser de alguma maneira, úteis.

 

Com fraternal abraço do seu
MANOEL RODIGUES FERREIRA

S. Paulo, Abril de 2003

 


 

 

SUMÁRIO
DA MINHA AUTOBIOBIBLIOGRAFIA PARCIAL E RESUMIDA

 

1915: Nascimento

1928: Diplomei-me no Curso Primário

1934: Diplomei-me no Curso Secundário

1937: Ingressei na Escola de Engenharia Mackenzie, Curso que tranquei em Julho de 1938.

1938: Fui admitido como Topógrafo no Instituto Geográfico e Geológico da Secretaria da Agricultura do Estado.

1939: Tornei-me Professor de Matemática, Física e Desenho Geométrico.

1940: Casei-me em Junho em S. Manuel-SP.

1941: Tornei-me Jornalista ao ajudar um Missionário no Território do Acre.

1942: Recomecei o Curso de Engenharia no Mackenzie.

1944: Consegui uma Viagem para o 4° Ano de Engenharia à Construção da Ferrovia Brasil-Bolívia.

1945: Consegui uma viagem para o 5° Ano de Engenharia à Construção da Usina Siderúrgica de Volta Redonda.

1945: Idealizei, organizei e chefiei a “Bandeira Mackenzie” ao Grande Sertão do Brasil Central.

1945: Encontrei Orlando Villas Boas no Rio das Mortes e passei a ajudá-lo.

1945: Formei-me em Engenharia Civil no Mackenzie e fui admitido no Departamento de Estradas de Rodagem.

1948: Fui designado para trabalhar na Construção da Nova Rodovia Rio-S. Paulo (futura Via Dutra). Fiz vir a futura Via Dutra, de Guarulhos ao município de S. Paulo na Margem Direita do Tietê e daí percorrendo-a até a Via Anhanguera na Lapa, idealizando assim a atual Marginal do Tietê, “uma idéia revolucionária, mas que foi adotada integralmente”.

1948: Idealizei e fundei a Sociedade Geográfica Brasileira (S. Paulo).

1948: Segui para o Alto Xingu onde permaneci por quatro meses realizando documentários.

1948: Publiquei n‘A GAZETA a primeira reportagem da série “Viagem ao Xingu” em 29/09/1948 e a 19° (última) em 05/11/1948, que seriam enfeixadas em dois livros: “Aspectos do Alto Xingu” e “Cenas da Vida Indígena”.

1948: Nessa série de reportagens, na 5° de 27/10/1948, dei o título “Região que deve ser transformada em Parque Nacional”, nome depois mudado para Parque Indígena do Xingu, pelo qual continuei lutando.

1949: Apresentei no Museu de Arte Moderna (SP), em 13/09/1949 o documentário “Aspectos do Alto do Xingu”, o primeiro filme cinematográfico colorido realizado no Brasil.

1958: Em Janeiro de 1958, após 12(doze) anos de pesquisas nos Documentos das Bandeiras de S. Paulo, descobri:
1°) Rio Paraupava fora o nome do atual Rio Araguaia;
2°) Os “Martírios” dos Bandeirantes que ficavam no Rio Paraupava, ficam hoje no Rio Araguaia;
Com esses descobrimentos publiquei em 1960 o livro “O Mistério do Ouro dos Martírios”, com o subtítulo: “Desvendado o Grande Segredo das Bandeiras Paulistas”.

1956: Juntamente com o Eng° Geólogo José Epitácio Passos Guimarães e o fotógrafo Zoli d’A GAZETA, fomos à região de Apiaí-Iporanga (Sul de S. Paulo) fazer pesquisas nas Grutas Calcária, tendo escrito a 1° Reportagem em 20/10/1956 e a 7° em 24/11/1956, quando o Governo do Estado, ouvindo nossa sugestão de ser criado o Parque Estadual do Alto Ribeira, anunciou na mesma reportagem que iria criá-lo, o que fez.

1958: Participei ativamente da 1° Jornada Paulista de Revisão da História do Brasil, no instituto Histórico e Geográfico de S. Paulo, de 18/01/1958 a 24/01/1958, quando DENUNCIAMOS a falsa História, que precisaria ser revista por meio dos documentos históricos.

1958: DENUNCIEI publicamente o “Programa de Ensino de História do Brasil” exigido pela Secretaria da Educação, em artigos que publiquei n’A GAZETA, de 08/07/1958 a 26/07/1958. O Governador Jânio Quadros em 06/08/1958 determinou à Secretaria da Educação que reformasse o referido Programa de História, dentro de 48 horas.

1959: Juntamente com Tito Livio Ferreira, publicamos o volume “História da Civilização Brasileira”, escrita somente com documentos históricos.

1959: Entreguei à Edições Melhoramentos os originais do meu livro “A Ferrovia do Diabo”, História da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.

1959: Segui para Porto Velho (RO). Iniciei minha longa Jornada pelos únicos caminhos do Território Federal de Rondônia: Estrada de Ferro Madeira-Mamoré e Rio Guaporé, até ao Real Forte do Príncipe da Beira. Cheguei em São Paulo na Véspera do Natal. Iniciei a minha série de reportagens n’A GAZETA em 08/01/1960. Terminei-a em 04/02/1960. No dia seguinte, 05/02/1960, Juscelino anuncia a Construção imediata da BR-29 Rodovia Porto Velho-Cuiabá.

1971: Fui redescobrir o local dos Martírios no Rio Araguaia, segundo os relatos de Bandeirantes e Viajantes. Fiz grande número de documentários. Idealizei o “Parque Estadual dos Martírios”.

1977: Publiquei o livro “As Bandeiras do Paraupava”.

1963: Publiquei o Livro “A Causa do Subdesenvolvimento do Brasil”.

1975: Publiquei o livro “Os Escravos Mecânicos”.

1987: Iniciei n“’O ESTADO DE S. PAULO“ em 17/03/1987, uma série de artigos sobre o valor do Trabalho Humano em relação ao Trabalho dos Escravos Mecânicos (Trabalho Mecânico).

1989: DENUNCIEI publicamente a tradução “Uma Breve História do Tempo” do original inglês “A Brief History of Time” do Físico Stephen Hawking. Minha denúncia, de 24/02/1989, é publicada na Imprensa e constitui um autêntico escândalo editorial. O Físico Inglês Stephen Hawking escreve-me em 08/04/1989 e em 06/06/1989, agradecendo-me pela defesa que fiz do livro dele.

1993: Lembrei-me de comemorar o 400° Aniversário da Bandeira de Grou-Macedo, sendo criada no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo uma Comissão das Festividades. Dei a essa Bandeira que Iniciava o Caminho da Lagoa Paraupava em 1590 a primazia do título CICLO PARAUPAVA, que durou até 1618.

1994: Terminei de escrever o volume “A Lagoa Dourada” (Lagoa Paraupava, Lagoa Vupabussú, Eupana Lacus) ainda inédito.

2003: Proclamei em 09/10/2003, durante o 25° Prêmio Clio da História, que é o PADRE ANTÔNIO DE ARAÚJO S. J., o 1° Historiador das Bandeiras de São Paulo, pela “Notícia” que ele escreveu em S. Paulo de Piratininga em 1622-1623.

MINHA AUTOBIOBIBLIOGRAFÍA INCOMPLETA

1957: Roteiro Aéreo do Brasil Central e Amazônia

1947: O Eclipse Solar em Bocaiúva (MG)

“Livro Razão”

Litoral Norte, Francisco “Chico” Meireles e os Xavantes, e Física Nuclear

Dissertação

1962: A REVOLTA DA MEDIOCRIDADE

1962: — O fim do vespertino “A GAZETA” —

RECAPITULANDO

PARQUES OFICIAIS IDEALIZADOS POR MIM (TRÊS)

Denominação

Data

Criado Por

Parque Indígena do Xingu

“A GAZETA” 27/10/1948

Governo Federal

Parque Estadual do Alto Ribeira (com José Epitácio Passos Guimarães)

“A GAZETA” 24/11/1956

Governo do Estado de São Paulo

Parque Estadual dos Martírios

“MANCHETE” 20/05/1972

Governo do Estado do Pará

 

DENÚNCIAS PÚBLICAS FEITAS POR MIM (TRÊS)

A Falsa História do Brasil: 24/01/1958.

O Programa de Ensino da História do Brasil Exigido pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo: 26/07/1958.

A tradução “Uma Breve História do Tempo”: 24/02/1989.

ALGUMAS REFERÊNCIAS FEITAS A MIM:

1961: LUÍS DA CÂMARA CASCUDO;

2001: JOSÉ NERI DA SILVEIRA e WALTER COSTA PORTO;

1994: PAULO BERTRAN;

1952: FRANCISCO MARINS;

1988: FRANCISCO FOOT HARDMAN;

2000: JOSÉ SEBASTIÃO WITTER;

1978: PIETRO MARIA BARDI;

1962: SERAFIM LEITE S. J.;

1987: MARCOS SANTILLI;

1999: GERALDO MORAES;

2002: EUGÊNIO DOS SANTOS;

1961: SERAFIM LEITE, S. J.;

EM TEMPO... SEMPRE É TEMPO

1964: GRANDE ÊXITO DO CONGRESSO DE SERTANISMO.

1998: JOTABÊ MEDEIROS, o jornalista.

1999: OS JUDEUS

2002: Rodovia Porto Velho-São Paulo e o Governo de São Paulo.

AS NOSSAS REVOLUÇÕES: a Semana da Arte Moderna em 1922 e a História Documentada.

1994: “A LAGOA DOURADA”

1994: O 2° Descobrimento do Brasil: o Interior pelos Bandeirantes de São Paulo.

A publicação do “A LAGOA DOURADA”

2000: A ONG DA HISTÓRIA DO BRASIL DOCUMENTADA

HOMENAGENS

NO ESTADO DE GOIÁS

Aragarças

Cidade de Goiás

Goiânia

NO ESTADO DE MATO GROSSO

BARRA DO GARÇAS

Nova Xavantina

Cuiabá

NO ESTADO DE RONDÔNIA

Porto Velho

Guajará Mirim

EM PORTUGAL

Lisboa

NO ESTADO DE SÃO PAULO

São Paulo: Ordem do Ipiranga

São Paulo: Câmara Municipal

São Paulo: Instituto Presbiteriano Mackenzie

Jaú: Conselho Curador

LIVROS

Livros Publicados

Livros: a publicar

POSFÁCIO: “NA FRENTE DO SEU TEMPO” por Ana Aranda

 


 

 

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MANOEL RODRIGUES FERREIRA
AUTOBIOBIBLIOGRAFIA

 

Nasci aos 25 de Julho de 1915, na Fazenda São Sebastião — município de Bica de Pedra (hoje de Itapuí), Estado de São Paulo — propriedade essa formada no século anterior pelos meus pais, Manoel Rodrigues Ferreira e Avelina Augusta Ferreira do Amaral, após derrubar a floresta com grandes dificuldades.

Fiz Curso Primário no Grupo Escolar Estadual “Manoel Rodrigues Ferreira” da minha cidade, diplomando-me em 1928.

Fiz Curso Secundário no Ginásio “Osvaldo Cruz”, na cidade de São Paulo, diplomando-me em 1934.

Ingressei após vestibular, na Escola de Engenharia Mackenzie (da hoje Universidade Mackenzie), sendo obrigado a abandoná-la em Julho de 1938, por dificuldades financeiras da família, devido à crise do café.

Em Setembro de 1938 fui admitido como Topógrafo no Instituto Geográfico e Geológico da Secretaria da Agricultura para levantar a Planta de parte da Região Noroeste do Estado de São Paulo.

Em 1939 tornei-me Professor de Matemática, Física e Desenho Geométrico em ginásios da Capital Paulista.

Em Junho de 1940 casei-me com Angélica Turini Ferreira na cidade de São Manuel — SP.

Em Janeiro de 1941 li notícias de que, no Território do Acre, ao fazer o recenseamento no ano anterior, o Missionário Frei José Carneiro de Lima fora atacado na floresta pela terrível serpente “surucucu” (“pico-de-jaca”).

Escrevi-lhe pedindo informações sobre essa cobra, desconhecida no Sul do Brasil. Frei José respondeu-me dando as informações solicitadas, mas ao mesmo tempo relatando que seu barco naufragara em um rio do Interior e perdera-o necessitando de um novo motor. Condoído da situação do pobre Missionário, pensei em ajudá-lo, mas como? Eu era um Professor, não tinha relacionamentos com ninguém fora do meu estreito, limitado mundo de trabalho, que pudesse me ajudar, isto é, ajudar ao Frei José. Foi então que tive a idéia de ir a um jornal, e lembrei-me do vespertino “A Gazeta” (da Fundação Casper Libero). E fui, temeroso de nem ser recebido. Os porteiros encaminharam-me ao Secretário do Jornal, Américo Bologna, que me ouviu com atenção, leu a carta do Frei José, e disse-me: — “Vamos publicar essa carta”, a qual foi estampada na edição do dia 23/03/1941, com o título “Nos Sertões do Acre”. Américo Bologna depois disse-me: — “Fique em contato com ele, vamos ajudá-lo”, e encarregou-me de preparar as notícias e tudo o mais que ele enviasse. A partir daí, solicitei ao Frei José que escrevesse notícias, artigos e fui assim introduzindo-o no jornalismo, justamente eu que nunca escrevera em jornal. Isto é, o roto ajudando o esfarrapado. E ele foi enviando-me os artigos com fotografias que iam sendo publicados aos sábados na “GAZETA MAGAZINE”, o suplemento cultural do vespertino “A GAZETA”. Frei José falava de tudo sobre o Território Federal do Acre, a floresta, os animais, a gente, os índios, os seringueiros, enfim, tudo sobre a Amazônia. E também sobre ele mesmo, inclusive com seu irmão Frei Peregrino, os únicos da Ordem dos Servos de Maria (servitas) na região (ele era Vigário da Matriz do Rio Branco) vivendo muitos pobres, cujas fotografias mostravam a Casa da Ordem onde moravam em Rio Branco (a capital), uma pequena habitação de madeira sem nenhum conforto. Ao mesmo tempo que tudo isso era publicado, apelos eram igualmente feitos para que alguém enviasse ao Frei José o motor de que ele necessitava. Depois de muitos meses, uma leitora d’A GAZETA, entrou em contato conosco na redação do jornal, pediu-nos todas as informações sobre o motor, o endereço de Frei José e enviou-lhe um novo, possante motor de centro além de complementos, como gerador de eletricidade, etc.

No dia 14/04/1942, recebi dele o seguinte telegrama:

“Estou radiante chegou motor formidável aguarde aéreo Frei José”.

Em 02/05/1942, ele enviou-me a carta, da qual destaco o seguinte trecho:

“Todos invejam a máquina. Estou ufano. Mas o devo ao amigo. Nunca mais o esquecerei. Como vai o Bologna”?

Em sua edição de 09/05/1942 A GAZETA publicou notícia da chegada do motor e muitos acessórios a Rio Branco, informando que lhe foram enviados pela leitora do vespertino, D. Zoraide Costa, e transcrevendo o seguinte trecho de carta que ele me enviara:

“Um colosso de máquina! Única no gênero aqui. É um correr de gente sem interrupção para ver o motor. Nunca pensei que fosse assim. Vou chapar de novo o barco e no fim de maio fazer a inauguração solene, com missa cantada, banda de música, discurso, almoço, viagens experimentais etc. Minha velha mãe chorou no dia da chegada do motor e muitas pessoas estão pagando as promessas que fizeram para a máquina chegar em paz”.

No dia 24/05/1942, Frei José escreveu-me carta, da qual destaco o seguinte:

“Abençoada campanha da Gazeta!!! Todos dizem que vai ser a melhor embarcação do Acre. Ontem mesmo o próprio Governador Cap. Oscar Passos visitou os serviços e achou graça ver-me de macacão furando e rebitando chapas de ferro”.

Frei José, dentre muitas fotografias, me enviou uma trabalhando assim, em frente à pequena Casa da Ordem, feita de tábuas de madeira.

Com data de 14/06/1942, Frei José enviou-me longo artigo para ser publicado na “GAZETA MAGAZINE”, do qual destaco os seguintes trechos:

“Agora estou de posse do melhor motor marítimo que há no Acre, graças à generosidade tradicional do povo bandeirante. (...) uma alma pródiga estendeu-me a mão e enviou-me o aparelho desejado. Esta criatura digna de todos os elogios é a Exma. Sra. D. Zoraide Costa, residente à Avenida Higienópolis, 720 apartamento n° 5 (...) através destas páginas agradeço ex-corde em primeiro lugar, ao ilustre Professor Manoel Rodrigues Ferreira que idealizou e fomentou a campanha pró motor, tendo ampla cooperação da “Gazeta Magazine” personificada na digna pessoa do Sr. Américo Bologna”.

As nossas correspondências continuaram e mais tarde, Frei José Carneiro de Lima e seu irmão Frei Peregrino vieram a São Paulo, levei-os à A GAZETA, ao Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo onde ele fez uma conferência, levei-os à Igreja de São Luis na Av. Paulista, onde o seu vigário na Missa de Domingo, cedeu o púlpito para Frei José fazer o sermão, tendo ele dissertado sobre o Território Federal do Acre, e eu pude ver muitas pessoas com os olhos cheios de lágrimas e outras enxugando-as ao ouvi-lo relatar a pobreza lá reinante. O mesmo aconteceu no domingo seguinte, na Missa na Igreja de Santa Terezinha na Rua Maranhão. Em ambas, receberam eles nos momentos grandes e valiosos donativos e fizeram importantes relacionamentos com o empresariado paulista.

Esse episódio fez de mim um jornalista, um escritor, voltado para o mundo da cultura, sob todos os aspectos pensando sempre em como ajudar o próximo, o meu povo, o meu País.

Hoje 62 anos após quando escrevo este relato, é o Colégio fundado por Frei José M. Carneiro de Lima em Rio Branco, na capital do Estado do Acre, um dos maiores, material e culturalmente, de toda a Amazônia.

Em começo de 1942, com minha profissão de Professor de Matemática estabilizada, resolvi voltar à Escola de Engenharia Mackenzie, graças à sua mantenedora, o Instituto Mackenzie, ter-me desobrigado do pagamento das mensalidades até o fim do Curso. Entretanto, minha vida era dura, pois levantava-me às cinco horas e meia da manhã para estar às seis e meia na Escola de Oficiais da Força Policial onde tomava café com a oficialidade e começava a lecionar Matemática às sete, até às nove, quando corria para o Mackenzie, onde copiava, dos apontamentos dos colegas, as aulas teóricas já havidas. Depois do almoço, ficava no Mackenzie participando das aulas práticas até à tarde. Depois do jantar, corria para o Ginásio Ipiranga, onde começava a lecionar às sete da noite, até às onze chegando à casa às onze e meia.

Em 1944, consegui junto à Chefia da Construção da Estrada de Ferro Brasil-Bolívia uma viagem da minha turma do 4° de Engenharia do Mackenzie, até aonde chegavam os trilhos em território boliviano. O Governo de São Paulo forneceu-nos passagens pela E. F. Sorocabanã até Bauru. Aí nos esperava uma composição especial da E. F. Noroeste do Brasil que nos levou até Porto Esperança, junto ao Rio Paraguai, onde estava sendo construída grandiosa Ponte de concreto para a Noroeste poder chegar a Corumbá. Em Porto Esperança, o vapor da época da Guerra do Paraguai, o “Fernandes Vieira” levou-nos a Corumbá, onde fomos conhecer a extração do minério de manganês da Serra do Urucum. Finalmente, de Corumbá, um trem especial da E.F. Brasil-Bolívia, levou-nos até a ponta dos trilhos, na estação El Carmem, na deserta planície boliviana, onde fomos recepcionados com festivo almoço pelas autoridades bolivianas e brasileiras. Finalmente, regressamos a São Paulo. Essa jornada permitiu-me escrever meu primeiro trabalho jornalístico, assinado, publicado n’A GAZETA sob o título “Viagem de Estudos ao Interior do Brasil”, uma série de seis reportagens ilustradas com fotografias, a primeira na edição de 22/09/1944 e a sexta na de 28/11/1944.

No ano seguinte, 1945, consegui com a Companhia Siderúrgica Nacional, uma viagem para conhecer os trabalhos de construção da Primeira Usina Siderúrgica do Brasil (alto-forno a coque), em Volta Redonda ficando a nossa turma do 5° Ano da Engenharia do Mackenzie, hospedada no moderno Hotel Bela Vista. No regresso, escrevi reportagem assinada, com fotos, publicada n’A GAZETA sob o título “Visita a Volta Redonda”, em 09/06/1945 e 15/06/1945.

Nesse mesmo ano de 1945, organizei um grupo de dezesseis colegas do 5° ano de Engenharia, a “Bandeira Mackenzie”, chefiada por mim, com o objetivo de chegar ao grande sertão do Brasil Central, no Rio das Mortes, além de Goiás com Mato Grosso. Mandei fazer grande placa de bronze que comemorasse nossa chegada ao Rio Araguaia, onde, cerca de um ano antes, a Fundação Brasil Central fundara a cidade de Aragarças, e também levaríamos 300 livros para lá fundar a primeira Biblioteca Pública, aliás a primeira ao longo de todo o Rio Araguaia. Partimos no dia 22/06/1945, chegando a Aragarças, que possuía só quatro casas de alvenaria e mais de uma dúzia de casas de barro. Aí colocamos a placa de bronze no Cruzeiro da Fundação, entregamos os 300 livros a dois funcionários da Fundação e estava fundada a Biblioteca de Aragarças. A metade da Bandeira Mackenzie voltou para São Paulo. Permaneci em Aragarças, organizei uma tropa de muares e, chefiando a Bandeira Mackenzie, com os restantes nove colegas do Mackenzie, mais eu e três tropeiros, deixamos Aragarças e nos dirigimos, através da mata, ao Rio das Mortes, aonde chegamos cerca de vinte dias após. Era o Acampamento da Expedição Roncador-Xingu, onde encontrei três antigos colegas de internato em Colégio na Capital Paulista em 1929 e 1930, os irmãos Orlando, Cláudio e Leonardo Vilas Boas, que eu não via desde então e agora vinha encontrá-los aqui, como simples trabalhadores braçais da Roncador-Xingu (falarei deles mais adiante). Depois de dez dias na região, dominada pelos temíveis e temidos índios Xavante, desconhecidos e portanto, ainda não pacificados percorremo-la, inclusive indo ao local denominado Araés. Depois regressamos a São Paulo, onde escrevi e publiquei n’A GAZETA uma serie de dezessete reportagens assinadas, sob o título geral de “Roteiro do Brasil Central” de páginas inteiras desse vespertino, ilustrado com fotografias, a primeira estampada no dia 23/08/1945 e a última, a 17a,, no dia 17/09/1945, série precedida de chamadas do jornal em 21 e 22. No começo do ano seguinte, 1946, publiquei essa série em livro intitulado “Nos Sertões do Lendário Rio das Mortes”, ilustrado e prefaciado pelo Ministro João Alberto Lins de Barros, obra que me abriu as portas do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Foi esse o primeiro livro que escrevi, iniciado no rústico Club de Aragarças.

No item anterior, eu informei que encontrara, no Rio das Mortes, Orlando Vilas Boas, sobre o qual falaria depois, o que faço agora. Inicialmente devo dizer que na série de reportagens n’A GAZETA e no livro em que foram enfeixadas, eu não menciono, nem uma única vez, os três irmãos Vilas Boas. Nenhum deles. Por quê? Porque ainda não eram notícia, eram simples braçais da Expedição Roncador-Xingu, que eu iria promover n’A GAZETA. Realmente para mim foi uma grande surpresa encontrá-los como ignorados membros da Expedição, simples membros que eu não via há mais de quinze anos. Resolvi ajudá-los. E antes de voltar para São Paulo, eu disse a Orlando: fique esperando, pois vou ajudá-los. Realmente, chegando a São Paulo, após a minha série de reportagens, eu disse ao secretário d’A GAZETA, Américo Bologna: — “Precisamos ajudar três amigos meus, Orlando, Cláudio e Leonardo, que trabalham na Expedição Roncador-Xingu”. O secretário não se entusiasmou com a minha idéia; aos poucos fui convencendo-o de que era preciso. Finalmente, Bologna concordou em dar algumas notícias sobre eles, mas eu queria mais: queria tornar Orlando repórter d’A GAZETA na Expedição, mas Bologna perguntava-me: — “mas ele sabe escrever?” Retruquei-lhe que deveria saber. Afinal, quando Bologna deu uma esperança, informei a Orlando, que por sua vez achava difícil sair bem dessa empreitada. Convenci-o a mandar os seus artigos, e afinal ele acedeu. E o jornal foi publicando-os. Eu vencera, dera a Orlando Villas Boas uma situação na Expedição que ele não esperava, tornando ele e seus irmãos respeitados e conhecidos não só em São Paulo mas em todo o Brasil. Durante anos somente eu e A GAZETA nos ocupávamos deles. Somente após, é que o restante da Imprensa começou a procurá-los. Todas as suas cartas a mim dirigidas e seus artigos publicados n’A GAZETA, fui guardando, conforme meu hábito de guardar tudo. Embora não fosse esse meu objetivo, talvez algum dia fosse oportuno publicar todo esse documentário.

Formei-me em engenharia civil pela Escola de Engenharia Mackenzie, em Dezembro de 1945. Em 6 de Fevereiro de 1946, fui admitido como Engenheiro do Quadro do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) da Secretaria dos Transportes do Estado de São Paulo. Em conseqüência abandonei definitivamente a Profissão de Professor.

Em 1948, ao retomar o Governo Federal através do DNER a construção da nova Estrada de Rodagem entre Rio de Janeiro e São Paulo, fui designado para cuidar da desapropriação do trecho entre Jacareí e Guarulhos, onde a nova Rodovia deveria finalizar. Dei a idéia de a mesma penetrar no Município de São Paulo, atravessar o Parque Novo Mundo, chegar ao Rio Tietê e daí, seguindo pela Margem Direita, chegar á Ponte das Bandeiras, podendo depois o Município de São Paulo prosseguir até à Via Anhanguera, no bairro da Lapa. Essa minha idéia custou para ser admitida mas finalmente foi aprovada. O órgão oficial do DER, isto é, o seu “Boletim” na edição de Dezembro de 1949 (vol. XV — N° 57) depois de uma longa notícia sobre o assunto, escreveu:

“A idéia do Engenheiro Manoel Rodrigues Ferreira era, na realidade, revolucionária, mas foi aprovada integralmente” (pág. 37).

(Nota: Em 1950, houve em SP um simpósio de urbanistas denominado “Programa de Melhoramentos Públicos para São Paulo” (capital), tendo um grupo de técnicos norte-americanos apresentado a idéia de uma Marginal do Tietê como se fosse desse grupo, o que levou o vespertino “A GAZETA”, de 04/01/1951, a protestar, inclusive escrevendo que o Eng. Manoel Rodrigues Ferreira já estava inclusive concluindo o trecho Via Dutra-Ponte das Bandeiras).

Em começos de 1948 tive a idéia de fundar a Sociedade Geográfica Brasileira com o objetivo de realizar principalmente expedições e viagens ao Interior do Brasil, para revelá-lo através de imagens (fotografias e cinema). Reuni dez amigos que desejavam fosse eu o Presidente, o que recusei para não parecer que o meu objetivo era esse, por essa razão convidei um amigo zoólogo, que aceitou ser Presidente. A Fundação deu-se no Salão Nobre do vespertino “A GAZETA”, na noite de 31 de Maio de 1948, quando anunciei que dias depois eu partiria para a Região do Alto Xingu. (Nota: muitos anos após eu ter feito o nome da entidade, aliando-a às minhas atividades, esse Presidente zoólogo excluiu-me da sociedade, que depois acabou, sendo seus bens doados ao Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo).

Num dos primeiros dias de maio de 1948, fui de caminhão até o Rio Araguaia, lá esperei um avião DC-3 da FAB que iria para o Alto Xingu no qual embarquei. Chegando ao Posto do Jacaré, junto ao igarapé do mesmo nome, afluente do Rio Coluene. Encontrei meus amigos Orlando, Cláudio e Leonardo Villas Boas, agora respondendo por esse Acampamento da Expedição Roncador-Xingu, esperando ordens da Chefia para continuar em direção ao Rio Amazonas, objetivo final da Expedição que, em lá chegando ela seria dissolvida e todos seus membros perderiam o emprego. Por isso, enquanto ali esperavam, fizeram contato com os índios conquistando-lhes a confiança e aprendendo suas línguas, e seus usos e costumes. Foi assim que eu ali os encontrei, meu objetivo era realizar fotografias em preto-e-branco e um filme em cores, o primeiro a ser realizado no Brasil. Permaneci nesse Acampamento formado de algumas choças de pau-a-pique cobertas de folhas de palmeiras e percorri a região, conhecendo-lhes as tribos indígenas, tornado-me amigo dos seus índios. Finalmente, a Chefia da Expedição, sediada em Xavantina, no Rio das Mortes, deu ordem para vanguarda que se achava no Posto de Jacaré, continuasse em direção ao Rio Amazonas. Chefiada por Orlando e Cláudio Villas Boas, ela partiu no dia 27 de Agosto de 1948, que documentei através de fotografias. Leonardo e eu ficamos no Acampamento do Jacaré. Finalmente, em fins de Setembro, regressei a São Paulo, depois de quase quatro meses no Alto Xingu.

No dia 29/09/1948, A GAZETA iniciou a primeira reportagem da série que teve o título geral de “Viagem ao Xingu” com fotos tiradas por mim, sendo a 19° e última publicada no dia 05/11/1948, tendo a circulação do vespertino aumentado consideravelmente, embora eu não tivesse usado os índios do Xingu para fazer sensacionalismo, pois bem ao contrário, os leitores, inclusive os educadores, louvaram a maneira como foram os indígenas mostrados “de verdade” isto é, como seres humanos que eram. Essas reportagens foram depois publicadas no livro “Terras e índios do Alto Xingu” e um álbum de fotografias intitulado “Cenas da Vida Indígena” prefaciado pelo Etnólogo Prof. Herbert Baldus, da USP.

Na 15a, reportagem daquela série publicada no dia 27/10/1948, dei a ela o título “Região que deve ser transformada em Parque Nacional”, idéia que defendi no texto da mesma. Pela primeira vez era lançada essa idéia de minha autoria exclusiva. Durante cinco anos foram muitos os que lutaram pela sua concretização, até que, em 1953, o nome mudou para Parque Indígena do Xingu, finalmente concretizado em 1961.

“Aspectos do Alto Xingu” foi o nome que dei ao documentário colorido que rodei durante a minha permanência nessa região em 1948. No dia 13 de Setembro de 1949 foi pela primeira vez apresentado, no Museu de Arte Moderna, em São Paulo. O sucesso foi tão grande, que o próprio Museu que fora fundado cerca de seis meses antes e era conhecido somente por poucos intelectuais, viu que começava a ser conhecido amplamente. Por isso, a seu pedido, durante muitos dias eu o projetei, inclusive quando havia necessidade de mostrá-lo a algum visitante ilustre. A crítica acolheu-o com grande entusiasmo, concorrendo, em 1951, a um Festival Internacional de Cinema no Rio de Janeiro, ganhando o Prêmio. O Presidente de Sociedade Geográfica Brasileira levou-o à Europa, sendo projetado em entidades científicas da Itália, França e Portugal, com grande sucesso, tal como no Brasil, pois no Filme só aparecem índios, mostrando-os exatamente como eram em 1948, sem a influência da nossa civilização. Foi — e ainda é — considerado o Primeiro Filme Colorido Realizado no Brasil. Deu origem à fundação da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, um mês após a sua apresentação no Museu de Arte Moderna em 13/09/1949.

(Nota: O museu nunca me pagou nada pela minha colaboração).

Em 1945, quando estive com a Bandeira Mackenzie no Brasil Central, subimos o Rio das Mortes até um local denominado Araés, antiga vila fundada exatamente duzentos anos antes, isto é, em 1745 por Bandeirantes, que a abandonaram em 1789. Ali estávamos pois em 1945, no Araés, onde nada mais havia, senão vestígios das catas de ouro e da presença dos índios Xavante. Fiquei profundamente impressionado, emocionado com o que via, por isso, quando voltei a São Paulo, decidi conhecer a História do Araés. Eu começava pois a fazer pesquisa histórica, estava me tornando um historiador sem saber. Mas a História do Araés, levou-me a outra história, o Enigma dos Martírios, legado pelos Bandeirantes. Descobri que os Martírios ficavam no Rio Paraupava, um rio que nem o historiador Pedro Taques de Almeida Pais Leme soubera onde ficava. Mas resolvi, não obstante, pesquisar. Doze anos depois, em Janeiro de 1958, estando certo dia na Biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, ao comparar dois documentos da Bandeira de André Fernandes (1613-1615), levei um susto e exclamei emocionado:

— Rio Paraupava era o nome do hoje Rio Araguaia!

Eu resolvera assim, o velho enigma deixado pelos Bandeirantes:

— Os Martírios ficam no Rio Araguaia!

Abria-se para mim uma nova era na História das Bandeiras Paulistas, tendo escrito e publicado em 1960 o volume de 456 páginas “O Mistério do Ouro dos Martírios” com o sub-título “Desvendado o Grande Segredo das Bandeiras Paulistas”, resultado daquele meu descobrimento. E continuei as minhas pesquisas visando a descobrir em que local do Rio Araguaia ficavam os Martírios. Esta seria pois outra pesquisa na documentação.

Em Setembro de 1956, por sugestão do Engenheiro Geólogo José Epitácio Passos Guimarães em sua companhia e mais o fotógrafo Zoli, de A GAZETA, dirigimo-nos ao Sul do Estado de São Paulo, região da Serra do Mar, entre as cidades de Apiaí e Iporanga. É uma região rica em Grutas de Calcário, conhecidas desde antigamente, mas pouco exploradas. Fomos pela cidade de Apiaí em “jipe” do jornal e ficamos na casa do administrador do local, funcionário do Instituto Geográfico e Geológico como também era o Eng. José Epitácio. Choveu o tempo todo em que lá estivemos, mais ou menos dez dias, subindo e descendo morros através da mata virgem. Começávamos de manhã, levando matula para o almoço no interior das cavernas, regressando à tarde para a casa do administrador. Percorremos diversas cavernas calcárias: Arataca, Chapéu, Monjolinho e outras, em uma delas descendo por uma abertura natural na rocha, até um ribeirão subterrâneo que corre entre cascalhos e areias, formando praias a centenas de metros abaixo do nível da Serra, mas que exploramos e fotografamos com os lampiões que levávamos. Na volta, escrevi sete reportagens de páginas inteiras para A GAZETA, todas fartamente ilustradas, a primeira publicada no dia 20/10/1956 e a última no dia 24/11/1956. Nas reportagens fizemos apelos ao Governo do Estado para que transformasse a região em Parque Estadual. Nossos apelos foram ouvidos, tendo o Secretário da Agricultura informado que o Governo do Estado iria concretizar o nosso desejo, criando o Parque Estadual do Alto Ribeira, notícia que publiquei na edição d’A GAZETA em 24/11/1956. Recentemente a UNESCO considerou-o Patrimônio Cultural da Humanidade.

Participei ativamente da 1a, Jornada Paulista de Revisão da História do Brasil, realizada por grande grupo de membros do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (do qual eu fazia parte desde 1946), no Salão Nobre da mesma entidade. Inaugurada no dia 18 de Janeiro de 1958, contou com professores, estudantes, pessoas interessadas em História, e além de historiadores do nosso Estado, também de outros Estados. Dentre os que apresentaram trabalhos versando sobre História, coube-me explicar como se realizavam as eleições às Câmaras das Vilas e Cidades do Brasil, de acordo com a Ordenação do Reino, de 1532 a 1822. A referida 1a, Jornada estabeleceu, por consenso unânime, que “A História é a Ciência do Documento”, e que, por isso, a História do Brasil deve ser revista, pois muito do que contém são inverdades, mitos. A 1a, Jornada terminou no dia 24/01/1958, constituindo-se num êxito absoluto.

Terminada a 1a, Jornada Paulista de Revisão da História do Brasil, passei a me interessar por um assunto que me dizia respeito pessoalmente: — “Até que ponto no Curso Primário eu fora, como todos, objeto de uma História do Brasil inoculando em nossos espíritos ainda em formação, conhecimentos falsos sobre o nosso Passado? Decidi então ler o “Programa de História do Brasil” exigido para as Escolas Primárias pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Depois de lê-lo, fiquei estarrecido, pois ele visava a criar na mente das crianças o ódio irracional ao nosso Passado, ao nosso povo e a todos que vinham para o Brasil, isto é, a todos os estrangeiros indistintamente. Resolvi denunciar publicamente o referido Programa, publicando artigos no vespertino A GAZETA. O primeiro foi publicado na edição de 08 de Julho de 1958, o segundo em 19 de Julho, o terceiro no dia 22 de Julho, o quarto em 26 de Julho e começo de Agosto. O público ficou alarmado com as mentiras que o Programa exigia e que eu estava comentando. Ninguém se levantou para protestar, quer na Imprensa, quer em qualquer outro lugar. O público estava chocado com as minhas denúncias, que eu provava só com documentos. No dia 06 de Agosto, o Governador do Estado, Jânio Quadros, que não era meu amigo pessoal e nem eu era militante do seu partido político, tomou uma atitude, enviando o seguinte bilhete ao seu Secretário da Educação, que foi publicado na Imprensa e transcrevo em seguida:

“Palácio do Governo
Educação
Professor Alípio

Em 48 horas, sem qualquer prorrogação, extirpar do programa oficial do ensino de História trecho transcrito pela Voz de Portugal.
Devolver ao meu gabinete, cumprido. Desejo saber ainda, no mesmo prazo, quais os autores desse programa.

J. Quadros
06/08/1958”

O êxito das minhas denúncias foi total, pois ninguém protestou quer nos Três Poderes do Estado, quer na Imprensa, quer nas entidades culturais ou quaisquer outras, enfim não houve um único protesto que fosse.

Em 1959, foi publicado o volume “História da Civilização Brasileira”, escrita numa parceria entre Tito Livio Ferreira e eu. A ele coube o capítulo “A Posição do Brasil em Relação a Portugal”, isto é, praticamente uma história Administrativa Nacional, ou ainda mais propriamente, uma história institucional, desde que o Estado do Brasil era parte integrante da Monarquia Portuguesa. Coube-me a História Político-Administrativa das Vilas e Cidades do Brasil, assunto esse completamente desconhecido, a não ser através de breves referências de historiadores. Utilizei principalmente a Documentação existente na Câmara e Registro da Cidade de São Paulo, que me parece ser a mais completa das existentes no Brasil. A partir daí continuei minhas pesquisas, aprofundando-as, como por exemplo, ir buscar a origem das nossas Repúblicas das Vilas e Cidades, nas República dessas mesmas urbes na Idade Média. Enfim, as nossas Vilas e Cidades eram Repúblicas (como provam-no todos os documentos), e não Municípios, que só foram criados com a Constituição de 1824. Todas essas minhas pesquisas foram sendo publicadas em opúsculos, artigos e livros, sendo o último intitulado “História do Urbanismo no Brasil — l532-1822” publicado em 1999.

Ainda nesse ano de 1959, entreguei à Edições Melhoramentos, os originais do meu livro “A Ferrovia do Diabo”, a história dramática e trágica da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, construída na Região Amazônica. É oportuno relatar como e por quê escrevi esse livro. Devo esclarecer que a História dessa Ferrovia divide-se em duas partes: 1a,) As tentativas de construção que se deram no Século 19, e que foram descritas por um dos que tomaram parte na última, o engenheiro norte-americano Neville B. Craig, que em 1905 publicou nos Estados Unidos seu livro, traduzido para o Português e publicado sob o título “Estrada de Ferro Madeira-Mámore”, em 1947, na Coleção Brasiliana; 2a,) Em 1907 teve início a construção definitiva, terminada em 1912. É esta segunda parte da História que narro em meu livro “A Ferrovia do Diabo”. Não se confunda, pois, o livro de Neville B. Craig com o meu, embora alguns mal intencionados costumam fazê-lo, com o objetivo de deslustrar tanto o meu “A Ferrovia do Diabo”, como a mim, seu autor. Mas, retomemos o relato inicial de como foi escrito esse meu livro, e, por quê.

Em Novembro de 1956, fui procurado na Redação do vespertino A GAZETA pelo seu fotógrafo Ari André que me mostrou uma caixa contendo muitos negativos fotográficos, dizendo-me:

— “Professor, eu ganhei esses negativos de um amigo, mas nem ele nem eu sabemos do que se trata. O senhor poderia identificá-los? Pois ninguém é capaz de fazê-lo”.

Prontifiquei-me a examiná-los, tendo levado algumas dezenas para casa. Durante dias fiquei olhando-os contra a luz, mas nada conseguia. Até que, um certo negativo mostrava um indiano de turbante e brincos nas orelhas, tendo ao fundo um vagão de estrada de ferro, no qual estavam gravadas as letras: “EFMM”. Quê significavam? Pesquisando, descobri que significam: “Estrada de Ferro Madeira-Mamoré”. Finalmente estava desfeito o mistério. Em São Paulo, pesquisei em todas as Bibliotecas, o que havia sobre a construção dessa Ferrovia, entre 1907 e 1912. Apanhei todos os negativos, escolhi os mais significativos e pude reconstituir a História da Construção. No dia 09 de Janeiro de 1957, A GAZETA começou a publicação dessa História sob o título geral: “Estrada de Ferro Madeira-Mamoré”, e os próprios títulos de cada assunto, em cada reportagem. O êxito foi completo, o vespertino aumentou a circulação consideravelmente, pois eram raros os que haviam sobrevivido àquela época. Foram assim, dezesseis reportagens de páginas inteiras, a última das quais foi publicada no dia 28 de Janeiro de 1957. Dado o sucesso da série, o escritor Francisco Marins, editor-chefe da Edições Melhoramentos, me propôs publicá-la em livro. Concordei, mas pedi mais tempo para ampliar as pesquisas dos documentos. Durante dois anos. Como da primeira vez, a pesquisa foi dificílima, pois ninguém escrevera livro sobre o assunto; eu só conseguia documentos esparsos: notícias da época em jornais e revistas, relatórios de médicos e engenheiros, relatórios dos Ministérios, enfim, meu trabalho durou dois anos. Além do mais não consegui descobrir o fotógrafo que naquela época fixara as imagens em vidro e acetato. Finalmente, em um daqueles primeiros meses, entreguei os originais à Edições Melhoramentos, tendo Francisco Marins dito: — “Vai ficar na fila, só será publicado dentro de uns dois anos”.

Num dos primeiros dias de novembro de 1959, o Diretor do vespertino A GAZETA disse-me:

— Chegou aí um convite do Governador do Território Federal de Rondônia, para o jornal enviar um jornalista à Capital, Porto Velho, com tudo pago, viagem aérea ida e volta, e mais a estadia no hotel de lá. Você, que já escreveu a História da Ferrovia, quer ir?

— É claro que está resolvido, eu vou!

Afinal, eu ia agora conhecer tanto a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, como também a Capital Porto Velho e tudo mais que fosse possível. No dia aprazado dirigi-me ao Aeroporto de Congonhas, e marquei a passagem: era uma sexta-feira dia 13 de novembro de 1959, e exatamente às 13 horas, partiu o avião, um Super-Convair de dois motores, para 44 passageiros. O avião fez escala em Campo Grande, depois chegou à tarde ao campo de aviação de Cuiabá, onde pernoitamos. No dia seguinte, às quatro horas da manhã somos acordados, às cinco e meia já estávamos no aeroporto e às sete somos convidados a tomar nossos lugares noutro avião, este bem menor, um Douglas C-47 de dois motores também da Cruzeiro do Sul. Pouco depois, a primeira escala na cidade de Cáceres, na margem do Rio Paraguai. O campo era de terra como todos daqui em diante. Reabastecido, retornamos aos nossos lugares, logo depois o avião fez escala em Vila Bela, antiga capital do Mato Grosso. Reabastecido o avião, entramos no avião, e ele continua, fazendo escalas sucessivamente no Real Forte do Príncipe da Beira, Guajará Mirim, e finalmente Porto Velho, aonde o avião chega exatamente às duas e meia da tarde, na pista encascalhada. De São Paulo a Porto Velho gastamos exatamente vinte e cinco horas. Logo somos transportados para o hotel, muito confortável, perto do Palácio do Governo. Logo entro em contato com o Governador. No dia seguinte chegam mais dois jornalistas de São Paulo: Alberto Tamer do “O Estado de S. Paulo” e Hugo Penteado Teixeira, da “Folha de S. Paulo”.

Durante alguns dias, fomos a alguns locais não muito distantes da Capital, pois não existem rodovias. E depois, no Palácio do Governo o Governador Paulo Nunes Leal nos reuniu em torno de um grande mapa, dizendo-nos:

— Os senhores foram conhecer os quase cem quilômetros iniciais da Rodovia BR-29, cujo objetivo é ligar Porto Velho à Cuiabá, capital do Mato Grosso. Essa Rodovia foi projetada e iniciada em 1943, por ocasião da 2a, Guerra Mundial, quando se considerou que ela teria uma função estratégica muito importante. Em 1945, trabalhava em sua construção o Tenente Fernando Gomes de Oliveira, do Exército, e que desapareceu certo dia na mata, quando fora caçar. Seu desaparecimento misterioso comoveu a opinião pública do Pais, mas nunca mais se soube dele. Em 1946, com o fim da Guerra e a queda de Getúlio Vargas, a Rodovia foi considerada demagógica e restaram 140 quilômetros iniciados aqui na Capital e que findam em Ariquemes.

E o Governador Paulo Nunes Leal, Coronel do Exército, nomeado pelo Governo Federal para governar o Território de Rondônia, continuou, dirigindo-se a nós jornalistas:

— Eu convidei os senhores para virem até aqui e darem depois uma notícia em seus jornais, sobre a necessidade de se construir a BR-29 até Cuiabá.

Os outros jornalistas prometeram que publicariam essa notícia, mas eu d’A GAZETA, nada disse, não prometi nada. Os outros colegas no dia seguinte foram embora, só fiquei eu em Porto Velho, e logo fui conversar com o Governador no Palácio, dizendo-lhe:

— Governador, o Sr. reparou que eu não prometi notícia nenhuma? Vou lhe explicar. Dar uma ou duas notícias sobre a necessidade da construção da Rodovia BR-29 não adianta nada, eu sei disso porque já tenho dezoito anos de jornalismo e aprendi que para se obter sucesso em qualquer empreendimento jornalístico é preciso tempo, muito tempo para se convencer a opinião pública e as autoridades, sobre a necessidade de um ato que vá ao encontro de uma finalidade desejada, seja ela qual for, mas que se prove suficientemente ser necessária.

— Mas no nosso caso, a autoridade que resolverá é o Presidente da Republica, Dr. Juscelino Kubitscheck. E como chegar até a ele?

— Realmente a questão é essa: como chegar ao Presidente. Chamar-lhe a atenção com uma ou duas notícias, seus assessores nem as lêem e se as levarem, ele também não as lerá.

— E como fazer então?

— Governador, vou lhe explicar meu plano: percorrerei todos os rios que bordejam o Território e fotografarei tudo que puder. Mostrarei na minha série de reportagens, que serão publicadas diariamente, que Rondônia só possui dois meios de transporte: o aéreo e os rios que bordejam. É absolutamente necessário que seja construída a BR-29, que será a primeira via de comunicação terrestre com o resto do Brasil.

— E o senhor fará isso?

— Sim, percorrerei esses rios e o Presidente da República se convencerá disso. Mas, desde que publicarei uma série em mais de quinze reportagens diárias, de páginas inteiras, o Sr., Governador, terá que lhe levar pessoalmente todos dias essas reportagens, tenho plena certeza que o Dr. Juscelino se interessará por elas, ira lê-las e determinará a construção da BR-29.

O Governador Paulo Nunes Leal concordou com a minha proposta e perguntou-me:

— Mas, quanto custará todo esse seu trabalho?

Eu lhe respondi:

— Nada! Absolutamente nada! Nunca cobrei nada por esses serviços, e não iria cobrar agora, quando me entusiasmei com esse projeto.

— Mas, de que o Sr. vive?

— Vivo da minha profissão de engenheiro.

Naquele momento, eu e o Governador estabelecemos um acordo sobre o meu plano, ele disse-me:

— Hoje mesmo vou dar uma ordem de serviços para que todos durante sua viagem o considerem como hóspede do Governo do Estado de Rondônia, e lhe prestem toda a assistência.

Dois dias depois eu iniciava a viagem pela Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, num troli de linha, fotografando tudo que era possível, fui dormir numa pensão em Abunã e no dia seguinte continuei a viagem, finalizando-a à noite em Guajará Mirim, fim da Ferrovia. Dias depois comecei a subir o Rio Mamoré, depois o Guaporé, tudo fotografando ao longo do rio, chegando finalmente ao Real Forte do Príncipe da Beira, onde dias depois tomei o avião que, procedente do Acre, se destinava a São Paulo, aonde cheguei na véspera do Natal. Imediatamente mandei revelar os filmes fotográficos, tendo tirado mais de seiscentas fotografias, uma média de vinte diariamente. E iniciei os textos das reportagens. No dia 07 de Janeiro A GAZETA anunciava em chamada de grande, destaque com texto e fotos ocupando um quarto de página que no dia seguinte iniciaria uma grande série de reportagens de minha autoria, sob o título geral de “Roteiro da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré”. No dia seguinte, 08 de Janeiro de 1960, era publicada a primeira, seguindo-se as outras tal como eu planejara em Porto Velho, páginas inteiras de texto e fotografias, destacando na 4° publicada na edição de 12 de Janeiro sob o titulo “Prestes a ligar Porto Velho a São Paulo Rodovia Federal BR-29”, assim o nosso Estado seria um dos maiores beneficiados, pois a indústria paulista teria um mercado garantido para seus produtos, inclusive com fretes rodoviários mais baratos. Na reportagem n°14 de 27 de Janeiro, sob o título “Postos indígenas brasileiro e boliviano nas margens do Guaporé”, destaquei como, numa tribo indígena aculturada, no lado brasileiro, encontrei um Pote Indígena que uma enchente desse Rio fizera surgir, sendo pois uma peça de grande valor arqueológico e pré-histórico, que comprei da índia e trazendo para São Paulo, tendo sido pois eu, o descobridor da Área Arqueológica de Rondônia. Em todas as reportagens da série eu mostrava os mais diferentes aspectos do Território de Rondônia, de Porto Velho ao Real Forte do Príncipe da Beira, apelando ao Presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira que mandasse construir imediatamente a Rodovia BR-29, pois sobretudo ela seria a primeira a penetrar na Amazônia, inclusive chegando à fronteira do Acre com o Peru, isto é, alcançando os Portos do Pacífico. A última reportagem, de n°21, foi publicada no dia 04 de Fevereiro, quando mais uma e última vez, fiz um apelo ao Presidente da República para que mandasse construir a BR-29 imediatamente. No dia seguinte, 05 de Fevereiro de 1960, o Presidente Juscelino Kubitscheck às dez horas da noite foi à televisão e em rede nacional, enquanto apontava para um mapa na parede, onde uma linha grossa e preta ligava Porto Velho a Cuiabá declarou:

— Quero anunciar que em data de hoje mandei que a Rodovia BR-29 Porto Velho-Cuiabá seja construída imediatamente.

Naquele momento eu descansava de uma luta que travara sozinho, de 20 de Novembro de 1959 a 04 de Fevereiro de 1960, isto é, uma luta de 76 dias, sem descanso. Uma luta na qual gastei o meu dinheiro, sem pedir nada a ninguém, como aliás sempre fizera e ainda faria.

No dia 11 de Fevereiro, A GAZETA publicava em manchete ocupando todas as colunas no alto da página: “Acolhe o Presidente da Repúbliéa a nossa sugestão”, e com letras maiores: “Construção urgente da BR-29 ligando Acre- Rondônia-Brasília”. Seguia-se o texto rememorando as 21 reportagens cujos apelos o Presidente da República satisfizera imediatamente.

Em Rondônia havia um clima de completa euforia pela decisão do Presidente.

No dia 24/02/1960, o Governador do Território de Rondônia em exercício, Major Renato de Araújo, enviou-me telegrama no qual disse:

“Agradeço excelentes reportagens sobre BR-29 e trabalho que realizou prol concretização essa grande obra”.

Em carta a mim dirigida em 09/03/1960, o Governador Renato de Araújo disse-me, sobre o meu trabalho:

“...a maior propaganda construtiva que o Território teve após a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mámore. Felicito-o sinceramente pelo resultado produzido”.

E relativamente ao livro “Nas Selvas Amazônicas”, que enfeixaria as 21 reportagens e que seria publicado em 1961, ele escreveu:

“...agradeço-lhe pelo serviço que prestará a Rondônia, a publicação em livro, das referidas reportagens”.

No Rio de Janeiro, o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem agia rapidamente para escolher as firmas construtoras, pois a construção seria iniciada em duas frentes: a partir de Porto Velho e a partir de Cuiabá. Cinco meses após, já estava marcada a solenidade simbólica da derrubada da última árvore, em Vilhena, no Território de Rondônia quase na sua divisa com Mato Grosso. A solenidade seria no dia 4 de Julho de 1960. O Presidente Juscelino Kubitschek enviou-me um convite especial para comparecer, ocupando um lugar no avião da FAB que partiria de Brasília no dia anterior levando autoridades. No dia 4 de Julho o Presidente chegou com D. Sarah de manhã, e quando foi momento da derrubada da última árvore, eu solicitei ao Presidente que caminhasse sobre o tronco caído, o que ele fez e eu assim o fotografei. Durante o almoço houve discursos, e logo Juscelino regressou. No dia 06, A GAZETA publicou ampla reportagem de página inteira sobre a solenidade de minha autoria texto e fotos. No fim desse ano de 1960, a BR-29 Rodovia Porto Velho-Cuiabá já dava trânsito embora precário.

Todo esse material relativo à Construção da BR-29 Rodovia Porto Velho-Cuiabá, sempre eu o mantive bem guardado, principalmente os negativos fotográficos da minha viagem pelo Território de Rondônia, em Novembro-1959 e Dezembro-1960, e também a coleção completa das minhas 21 reportagens que deram origem à decisão do Presidente Juscelino na noite de 05 de Fevereiro de 1960. No ano de 2001, enviei ao meu amigo Luis Leite de Oliveira, em Porto Velho, aquelas 21 reportagens de 1960 (em cópia reduzida), que ele mostrou à jornalista Ana Aranda, do jornal dessa Capital, “Diário da Amazônia”. Ela ficou entusiasmada com as referidas reportagens, tanto o texto como as fotos, não só por reconstituir o hoje Estado de Rondônia tal como era em 1959, há exatamente 42 anos, mas também pela linguagem do texto, límpida, atual. Foi por isso que Ana Aranda passou a reproduzir na integra aquelas 21 reportagens. A primeira foi publicada no “Diário da Amazônia” de Porto Velho no dia 01 de Agosto de 2001, e a última no dia 02 de Setembro, todas em páginas inteiras, com chamadas nas primeiras. As publicações eram diárias, exceto aos sábados e domingos. Tal como acontecera com A GAZETA quarenta e dois anos atrás, foi um sucesso absoluto de leitores, isto é, de público. Tendo em vista esse êxito, e a exigência da população do Estado de Rondônia, o “Diário da Amazônia” começou novamente a publicar essa série, mas somente aos sábados, tendo o primeiro número sido publicado no dia 07 de Dezembro de 2002, com a chamada em primeira página de uma fotografia já histórica, por mim tirada no dia 04 de Julho de 1960, quando, em Vilhena, o Presidente Juscelino Kubitschek andou sobre a árvore que derrubara.

ALGUNS DESTAQUES DAS REPORTAGENS PARA SIMPLES ILUSTRAÇÃO

Destacadas d’A GAZETA de 1960 e do “Diário da Amazônia” de 2001

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A última reportagem da série sobre o Território Federal de Rondônia e que teve o objetivo de apelar ao Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira para que mandasse constrair a então BR-29, Rodovia Porto Velho-Cuiabá, foi publicada no dia 04 de Fevereiro de 1960. (Reprodução do título, acima).

No dia seguinte, 05 de Fevereiro, o Presidente Juscelino foi à noite à Televisão e, em Rede Nacional, declarou que nesse dia mandara construir imediatamente a referida Rodovia, assim atendendo aos apelos do engenheiro, jornalista e fotógrafo Manoel Rodrigues Ferreira na sua série de reportagens, que seis dias após, deu a notícia em página inteira d’A GAZETA de 11/02/1960 (Reprodução do título, abaixo).

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No dia 04 de Julho de 1960, o Presidente Juscelino foi ao local denominado Vilhena, para participar da cerimônia da derrubada da última árvore na construção da Rodovia BR-29, Rodovia Porto Velho-Cuiabá, que na realidade seria a rodovia Acre-Rondônia-Brasília, Ligada a São Paulo e Sul do Brasil. A GAZETA de 06/07/1960. Reprodução do título abaixo:.

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BREVE HISTÓRICO DA RODOVIA BR-29

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1) Em 1959, o Território Federal de Rondônia estava inteiramente revestido da Floresta Amazônica.

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2) Nesse ano, Manoel Rodrigues Ferreira bordejou-o anotando-o e fotografando-o, sua última reportagem foi publicada no dia 04/02/1960. No dia seguinte, 05/02/1960, atendendo aos seus apelos o Presidente Juscelino Kubitschek foi à televisão e anunciou que mandara construir imediatamente a Rodovia BR-29.

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3) A Rodovia BR-29 cortou o Território ao meio, abrindo-o à colonização. Logo, tornou-se Estado de Rondônia, um dos mais prósperos da Federação.


 

“Diário da Amazônia” de 01/08/2001, destaque do início da Reapresentação das reportagens d’A GAZETA de 1960.

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[Transcrição:]

O intelectual Manoel Ferreira

Conhecido em Rondônia pelas obras, “A Ferrovia do Diabo” e “Nas Selvas Amazônicas”, o escritor, jornalista e sertanista Manoel Rodrigues Ferreira, natural de Itapuí-SP é formado em Engenharia Civil pela Universidade Mackcnzie, tendo atuado como jornalista no jornal “A Gazeta” de 1941 até 1972. É de autoria do jornalista o documentário “Aspectos do Alto Xingu” produzido cm 1948, sendo o primeiro filme colorido feito no Brasil. Apresentado no Museu de Arte Moderna de São Paulo, o documentário deu origem à Companhia Cinematográfica Vera Cruz e foi o vencedor do Festival Internacional de Cinema no Rio de Janeiro em 1952.

Foi na “A Gazeta”, em 1948 que Manoel Ferreira lançou a idéia da criação do Parque Nacional do Xingu, que depois foi concretizado com o nome de Parque Indígena do Xingu. Já em 1972, o jornalista lançou desta vez na revista “Manchete”, a idéia do Parque Nacional dos Martírios na margem esquerda do Rio Araguaia no Estado do Pará. Hoje, o local tem o nome de Parque Estadual dos Martírios. Em pesquisa feita nos arquivos históricos deixados pelos sertanistas e bandeirantes paulistas, ele descobriu tratar-se da existência real de esculturas rupestres (itacoatiaras), existentes no Baixo Rio Araguaia (Rio Paraupava).

Em seqüência a estes estudos, o jornalista realizou cm 1971 uma Expedição Científica ao local dos Martírios resultando em documentários, fotografias, cinema, moldes cm gesso e levantamento topográfico.

A estada de Manoel Ferreira em Rondônia, resultou numa série de 21 reportagens sobre o então território de Rondônia, publicada em 1960 em “A Gazeta”. Foi com base no material publicado que o então presidente Juscelino Kubitschek acatou a idéia de construir a Rodovia Cuiabá/Porto Velho, providenciando de imediato a obra que foi inaugurada um ano e meio depois.

O jornalista foi declarado Cidadão Honorário guajaramirense, título concedido pela Câmara Municipal de Guajará Mirim. A experiência de Manoel Ferreira tiaduziu-se em 23 obras publicadas entre livros e documentários entre eles: Terras e índios do Alto Xingu; Cenas da vida indígena; A causa do subdesenvolvimento do Brasil; Expedição científica aos Martírios. História dos irmãos Villas Boas e a Revisão da História do Brasil.

[legendas das fotos:]
— Manoel Rodrigues Ferreira em 1960
— Índios da Região de Vilhena em 04 de Julho de 1960

“Diário da Amazônia” de 02/08/2001, destaque da 2a, reportagem da Reapresentação da reportagem d’A GAZETA de 1960.

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[Transcrição:]

“Nos Tempos do Território

No dia 5 de fevereiro de 1960, sexta-feira, às 22 horas, o presidente Juscelmo Kubitschek apareceu na televisão, em programa nacional, para falar de planos do seu governo. Tinha a seu lado, pregado na parede, um grande mapa do Brasil e nele uma linha grossa ligava Cuiabá a Porto Velho e a Rio Branco, capitai do Território do Acre. “Quero também anunciar a construção da estrada de rodagem de Cuiabá a Porto Velho e Rio Branco, e dei ordens ao Ministério da Viação para que tomasse as medidas necessárias, imediatamente”, disse o presidente na ocasião. No dia 4 de julho de 1960, o presidente Juscelino Kubitschek (foto) derrubou a última árvore no acampamento da construtora paulista cm Vilhena. Começava assim uma nova etapa paia o então Territóno Federal de Rondônia. Página a8”

“Diário da Amazônia” destaques da série das reportagens de 2001, reapresentação das d’A GAZETA de 1960.

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“Diário da Amazônia” destaques da série das reportagens de 2001, Reapresentação das d’A GAZETA de 1960.

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Com o índio Taconi (Alto Xingu, 1948)

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Com o Presidente Juscelino Kubitschek na Ilha do Bananal em 27/06/1960

 

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Em 1971, resolvi ir redescobrir o local dos Martírios, no Rio Araguaia. Redescobrir na documentação das Bandeiras de São Paulo eu já habia feito, o que provei em meu livro “O Mistério do Ouro dos Martírios”, publicado em 1960. Mais ainda faltava redescobrir o local exato no Rio Araguaia, que fora pela primeira vez denominado Rio Paraupava, a partir de 1590. Verifiquei que, ao longo do tempo, sempre houve alguém que fora ao local certo, exato dos Martírios. Por exemplo, Cunha Matos no começo do Século 18 deixara um mapa onde no Baixo Rio Araguaia ele o assinalara com a denominação “Martírios”. E ainda em 1824, Cunha Matos escrevera que nas lajes de pedra, existentes no local, achavam-se gravados toscamente, vários instrumentos da Paixão de Cristo, e também figuras de cobras, jacarés e cabeças. Em 1844, o viajante francês Francis Castelnau percorreu o Rio Araguaia, passou pelo local dos Martírios, desenhou-o, mas não viu os desenhos nas pedras do rio, pois ele chegara a 09 de Julho de 1844, fizera somente um pousou no local e continuou sua Expedição no dia seguinte de manhã. Em 1847 o Bacharel Rufino Teotônio Segurado realizou uma viagem pelo Araguaia, passou pelo local chamado Martírios, mas não viu as figuras gravadas nas rochas, por isso supôs que as próprias rochas tinham a forma dos desenhos dos Martírios. Em 1888, o cientista germânico Paul Ehrenreich desce o Rio Araguaia e chega ao local dos Martírios, onde ele permanece, copiando os desenhos feitos em baixo relevo gravados nas rochas (os índios chamavam esses desenhos de “itacoatiara”, mas modernamente são denominados “esculturas rupestres”). Os desenhos copiados por Ehrenreich foram, em sua obra “Contribuições Para a Etnologia do Brasil”, reproduzidos também na “Revista do Museu Paulista”, volume II, em 1948, que também reproduzi, em meu livro “O Mistério do Ouro dos Martírios”, página 139. Em conclusão, os Martírios ao longo tempo nunca haviam desaparecido, simplesmente historiadores que não pesquisaram no Rio Araguaia (embora não conhecessem seu primitivo nome Rio Paraupava), é que criaram o mito “Martírios” considerando-o uma fantasiada inventada por Bandeirantes.

Assim, em 1971, possuidor de todas essas informações, organizei uma Expedição para ir à procura dos Martírios e lá realizar documentários como fotos em preto-e-branco, coloridas, filme cinematográfico, reproduções dessas figuras em gesso, levantamento topográfico da Ilha dos Martírios. Para armar essa Expedição mais uma da minha primeira “Bandeira Mackenzie” de 1945 tive o auxílio somente em materiais do Governo do Estado, da Prefeitura de São Paulo e de particulares. Éramos doze, entre os quais um fotógrafo, um cinegrafista, um topógrafo, um especialista em gesso, um cozinheiro e outros. Fomos pela Rodovia Belém-Brasília até Xambioá, na margem direita do Rio Araguaia, onde ninguém conhecia nem a História, nem o local dos Martírios. Era algo completamente ignorado. Somente um negociante que percorria o Rio Araguaia freqüentente, Corbiniano Claro, é que se dispôs a nos guiar até lá, embora ele conhecesse um local “cheio de desenhos nas pedras”, mas nada sobre o nome Martírios. Descemos o Rio Araguaia em seu barco, com todo nosso material e fizemos acampamento num povoado muito pobre chamado Santa Cruz, na margem esquerda do Rio Araguaia. A Ilha dos Martírios fica a pouco mais de um quilômetro, junto à margem direita do Araguaia, onde realizamos todo o documentário, com êxito. Como saímos de São Paulo em começo de Outubro de 1971, só regressamos mais de um mês depois, momento em que toda a Imprensa foi nos entrevistar no Museu da Imagem e do Som, localizado na avenida Rio Branco. Publiquei depois pela Gráfica Municipal, um folheto de 50 páginas com o texto e fotos, sob o titulo “Expedição aos Martírios”. O Departamento de Cultura, órgão da Prefeitura do Município de São Paulo, pelo seu Chefe da Divisão do Arquivo Histórico, Prof. Eduardo de Jesus Moraes do Nascimento, em Julho de 1974, das cerca de cinqüenta reproduções em gesso das esculturas rupestres dos Martírios, mandou reproduzir dezessete em bronze, que foram expostas na Casa do Sertanista, posteriormente no Jardim Interno do Museu Casa da Marquesa, na rua Roberto Simonsen. O Prof. Eduardo Nascimento também mandou publicar um folheto de 8 páginas em papel cuchê, com desenhos, mapas, fotos e texto de minha autoria, e apresentados por ele na primeira página. O filme documentário colorido ainda não foi montado e sonorizado, permanecendo ainda hoje, 32 anos depois no seu estado bruto, não tendo sido ainda, apresentado publicamente.

A revista MANCHETE, em sua edição de 20 de Maio de 1972 (n° 1048), publicou uma grande matéria relatando essa Expedição aos Martírios, sob o título: “Martírios — A Civilização Perdida do Araguaia”, com o texto de Celso Kinjô e mais fotos coloridas e entrevista por mim concedida, num total de 6 páginas. Nessa matéria dei a idéia de os Martírios constituírem um Parque Nacional para preservá-los. Posteriormente, Noé Von Atzingen e Maria Virgiana Bastos de Mattos, residentes em Marabá, cidade próxima dos Martírios conseguiram que o Governo do Estado do Pará criasse o Parque Estadual dos Martírios, sendo assim concretizada a minha idéia.

Com aquele meu descobrimento histórico de 1958, de que o Rio Paraupava fora o nome primitivo do Rio Araguaia, prova exposta no meu livro “O Mistério do Ouro dos Martírios” (1960), um novo campo do Passado das Bandeiras de São Paulo (não digo Bandeiras Paulistas porque o vocábulo “paulista” não existia ainda, só surgindo cerca de oitenta anos depois), abriu-se para mim. E passei, pois, a pesquisar em profundidade os primeiros tempos das Bandeiras de São Paulo, quando verifiquei que essa época se iniciara em 1586 e terminara em 1618. Essas Primeiras Bandeiras foram à procura de uma Lagoa mítica, a Lagoa Paraupava, também chamada Lagoa Vupabussú entre os índios do Brasil, e nos mapas Portugueses e Europeus em geral, denominada Lagoa Dourada, do Ouro e Lacus Eupana (segundo já provei amplamente “Eupana” é uma corruptela de “Upava”, portanto “Lacus Eupana” é o mesmo que Lagoa Paraupava). Aquele primeiro período das Bandeiras de São Paulo isto é, as primeiras que foram descobrir o Interior da América Portuguesa, e que deram origem a todas as Bandeiras Posteriores, foram esses primeiros grandes sertanista, Bandeirantes, os primeiros e grandes Geógrafos da nossa História. Ao escrever pois esse meu trabalho, resultado das minhas pesquisas nos documentos, não tendo sido cópia de nenhum livro de outro historiador, dei-lhe o título de “As Bandeiras do Paraupava”, editado em 1977, pela Gráfica da Prefeitura do Município de São Paulo.

Em 1963 publiquei o livro, “A Causa do Subdesenvolvimento do Brasil”, um livro de Ciência Histórica, isto é um livro que era simultaneamente de Ciências e de História. Eu provei que o Brasil era pobre, subdesenvolvido, porque não possuía uma fonte de energia chamada Hulha (do francês “houille”), mas que ao tempo em que o Estado do Brasil era uma Província da Monarquia Portuguesa, era denominada “Carvão-de-Pedra”, e modernamente “Carvão Mineral”. Assim, foi a Hulha que, ao descobrir James Watt o motor-a-vapor de dois tempos, em 1786, esse motor que consumia Hulha, foi essa fonte de energia mecânica, a responsável pelo surgimento da Revolução Industrial. Isto é, somente as nações possuidoras de jazidas de hulha é que ficaram economicamente, materialmente ricas: Inglaterra, Estados Unidos, Alemanha, França, Bélgica, Rússia e outras do Norte da Europa. O Brasil por não possuir essa fantástica fonte de energia, permaneceu pobre. Como também não a possuíam, Portugal, Grécia, Itália, Espanha e outras Nações Européias e as da América Latina. Quando o livro foi publicado, dos que se manifestaram, a maioria foi-lhe favorável como por exemplo o cientista Eng°. Othon Henry Leonardos que escreveu longo artigo na revista “Engenharia, Mineração e Metalurgia”, no qual disse: “...seu irrefreável ímpeto de transmitir aos seus concidadãos verdades simples que muito batalhou para encontrar. Seu livro profundamente sincero... .” (Rio, Maio de 1964). Outro notável cientista, o Eng°. Sylvio Froés de Abreu em carta ao Autor, escreveu: “O livro além do conteúdo doutrinário muito recomendável é muito oportuno e altamente atraente. Receba pois meus comprimentos por essa publicação tão realística, tão útil e instrutiva.&rdquo: (11/04/1964). O crítico literário Álvaro Augusto Lopes, no jornal “A Tribuna“ de Santos (SP), escreveu: “O Autor sabe amenizar a natural aridez dos assuntos versados, com seguro conhecimento e familiaridade, assim prática e livresca, obrigando o leitor a acompanhá-lo, em longo raciocínio...”. (12/01/1964). O economista José Bonifácio de Souza Amaral, na revista “A Rural”, órgão da Sociedade Rural Brasileira (SP), escreveu: “...a nosso ver o mais importante estudo até hoje publicado sobre o tema, com relação ao nosso País (...) o Autor reúne, à sua preciosa qualidades técnicas, um método didático de exposições, um estilo de impecável clareza e elegância, e um dom ilustrativo próprio, formando um conjunto de predicados para tornar o assunto de fácil compreensão e agradabilíssimo recreio espiritual”. (12/01/1964). O economista Olbiano de Melo, Professor da Cadeira de Economia Política, da Escola Superior de Administração de Negócios, da Pontifícia Universidade Católica de S. Paulo (SP), escreveu carta ao Autor na qual disse: “Presentemente posso me congratular com o ilustre patrício pela magnífica e atualíssima obra científica que incorporou à cultura nacional. Seu trabalho foi um dos melhores por mim lido sobre o problema do desenvolvimento nacional (...) De minha parte posso lhe afiançar que tenho procurado divulgar seu trabalho, recomendando sua leitura, principalmente aos meus alunos. Não é muita coisa. Mas, assim procedendo, sei que estou, sem nenhum favor, cumprindo meu dever. De brasileiro e de patriota”. (17/06/1965).

Esqueci-me de dizer que no meu “A Causa do Subdesenvolvimento do Brasil”, escrevi muitas páginas sobre El-Rei Dom João VI, que ainda Príncipe Regente substituindo sua mãe D. Maria I, preocupou-se, ainda em Portugal, com o desenvolvimento econômico do Estado do Brasil, principalmente na sua preocupação com a existência de hulha em nosso Pais, o que se verifica pelas suas ordens, suficientemente publicadas, mas que são deliberadamente omitidas pelos historiadores, nem por todos como José Pires do Rio e Pandiá Calógeras este brasileiro filho de gregos que escreveu o artigo “O Ferro”, publicado na revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, no volume 9, pagina 55:

“É vezo corrente, inexplicável embora, descrever D. João VI, como Príncipe incapaz, educado por monges, eternamente hesitante, e arrastando suas dúvidas e duplicidades pelos Paços Reais de Portugal. É tempo de restituir-se a esse Monarca o lugar que lhe compete na evolução portuguesa e brasileira, e para isto é mister estudar a sua vida e sua ação à luz dos documentos, e não mais, como se tem feito até hoje, nas impressões nativistas ou partidárias...”.

Esse trecho eu o reproduzi no meu livro “A Causa do Subdesenvolvimento do Brasil”, na página 118. Pandiá Calógeras, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 1870 e faleceu em Petrópolis em 1934, tem uma vasta e brilhante biografia de engenheiro, historiador e político, tendo ocupado os mais altos cargos da República.

Continuando nas minhas pesquisas sobre desenvolvimento e subdesenvolvimento econômico das nações, inserindo nelas o Brasil publiquei após 1963, mas três livros: “Ciência do Desenvolvimento Econômico” (1965); “Os Escravos Mecânicos” (1975); “Do Big Bang à Civilização Atual” (1983). Desses três, o título “escravos mecânicos” significa que existem dois trabalhadores: o trabalhador humano e o trabalhador mecânico este significando a força que se exerce nas máquinas fabris as quais são movidas pelos motores-a-vapor que funcionam com a energia mecânica (hulha, madeira, gás natural, petróleo, nuclear, etc.). A este trabalhador mecânico é que dei o nome de “escravo mecânico”. Assim, calculei a relação entre ambos, chegando à seguinte conclusão: em 8 (oito) horas de trabalho ininterrupto, o “escravo mecânico” vale, 0,6 kWh (seis décimos de quilowate-hora). Esse também o valor do trabalho humano. Qual a diferença entre eles? A diferença está no custo do trabalho de cada um: basta ir à conta mensal da empresa fornecedora de energia elétrica, verificar qual o custo do kWh (quilowate-hora) e multiplicá-lo por 0,6 tendo-se pois o valor do “escravo mecânico”. Em seguida, compará-lo com o custo também em dinheiro, cobrado por um trabalhador humano durante um dia de serviço isto é, durante oito horas. Basta compará-los para se verificar a grande diferença. Aí reside a razão da Revolução Industrial: a diferença entre a energia humana e energia mecânica. Os países que se tornaram ricos fizeram-no porque tinham — e ainda têm — hulha (energia mecânica) em seus territórios, para produzir bens ao passo que os países que não a possuíam só tendo o homem (energia humana) para produzir, continuaram economicamente pobres. Com o advento da energia hidroelétrica é que algumas nações, como o Brasil, puderam dar os primeiros passos no caminho da Revolução Industrial, um desenvolvimento que chegaria somente cento e cinqüenta anos depois e que nunca alcançaria a plenitude alcançada pelos possuidores de hulha. Em conclusão: ao escrever o livro “Os Escravos Mecânicos”, provei que existem duas Ciências Econômicas: a baseada somente no Trabalho Humano e a baseada somente no Trabalho Mecânico. Ninguém as refutou até hoje, mesmo porque não há refutação possível.

Em 1987 o jornal “O Estado de S. Paulo” iniciou a publicação de alguns artigos de minha autoria, versando sobre a questão do valor do Trabalho Humano em Relação ao Trabalho Mecânico. O primeiro, intitulado “Subdesenvolvimento Econômico e Estatização” (17/03/1987); o segundo, “Subdesenvolvimento Econômico e o Conceito de Trabalho” (16/04/1987); o terceiro, continuação desse segundo, em 17/04/1987. O artigo intitulado “Trabalho Humano e Trabalho Mecânico” (08/01/1987), fora o primeiro mas o colocamos nesta relação em quarto porque vou deter-me só nele. Nesse artigo faço menção expressa aos dois Trabalhos: o mecânico e o humano, que já vimos, isto é, o Trabalho Mecânico que exige, na Indústria, uma certa quantidade de Trabalho Humano para “fiscalizá-lo”. Por isso, inventou-se o “robô” que substitui o trabalhador humano. Assim, suponhamos que uma máquina fabril exige um trabalhador humano para cuidar dela: ele, o humano, pode ser substituído por um trabalhador mecânico, isto é, que se chama “robô”. Qual a vantagem? Exatamente o custo, isto é, aquela diferença de 0,6 kWh que já vimos; portanto, o que antes chamamos de “escravo mecânico”, agora passou a ser chamado de “robô”. Expliquei, pois, nesse artigo, a vantagem, para o industrial, de substituir o trabalhador humano (operário), pelo trabalhador mecânico (robô): a vantagem achava-se no custo em dinheiro, que diminuía consideravelmente o preço da mercadoria fabricada. Isso é uma questão de competição de indústrias no mercado. No dia em que esse artigo foi publicado no “O Estado de S. Paulo”, recebi alguns telefonemas, pois pela primeira vez explicava-se, no Brasil o significado de “robô”. Dentre os que me telefonaram, guardei-lhe o nome por parecer-me que nada possuía na sua profissão que se relacionasse com o assunto tratado embora me aplaudisse: fora o cronista esportivo Osmar Santos. Também às sete horas da noite, ao ouvir o jornal da Televisão Bandeirantes, um economista que precedia o noticiário, fez uma crítica desfavorável à utilização do robô no Brasil, que só se justificaria nas nações altamente industrializadas, tal como ele vira recentemente em Colônia, cidade alemã.

— Em Agosto de 1988 foi publicado pela Editora Rocco, do Rio de Janeiro a tradução em Português, do livro do Físico Inglês Stephen Hawking, “Uma Breve História do Tempo” no original “A Brief History of Time”, que vinha com o impacto do sucesso que estava recebendo no mundo inteiro. No Brasil não seria diferente: a tradução foi recebida com um entusiasmo desmedido por toda a imprensa escrita, falada e televisiva. Eram freqüentes os elogios à obra do Grande Físico Inglês. Elogios que partiam de todos os lados, nas universidades, nas salas de aula, nas mesas de bares, enfim, não havia quem não elogiasse o livro, isto é, a tradução. Embora eu costume adquirir as últimas edições das obras de Física Moderna e Cosmológica, fiquei indeciso em adquirir a tradução ou o original em inglês. Finalmente, optei pela tradução tendo adquirido a 5a, edição. Folheei o livro e achei alguns erros, tendo resolvido, no da 31 de Outubro, enviar um artigo por mim assinado e com o título do próprio livro “Uma Breve História do Tempo” a um jornal denunciando alguns erros. O jornal não publicou.

Foi então que resolvi lê-lo desde a primeira página. Quando cheguei à metade do livro, eu estava estarrecido! A tradutora do livro não conhecia nem os rudimentos de Aritmética e Física e se abalançara à aventura de traduzir um livro do maior Físico da atualidade! Não eram erros de Português, de Gramática, de Redação, eram clamorosos erros de Ciência, da qual ela não conhecia absolutamente nada! Não havia página em que não houvesse um ou mais erros de Física, de Cosmologia, de Aritmética e Geometria elementares! A tradutora não sabia o que estava lendo no original e, então, inventava o que ela supunha ser a tradução! Eu chegara à conclusão de que ninguém lera o livro, isto é, a tradução! E se lera nada entendera, e se supunha que o entendera, aprendera errado! Achei que seria do meu dever denunciar a referida tradução. Mas eu já tivera experiência pouco antes de enviar um artigo a um jornal que não o publicara, e nem entrara em contato comigo para esclarecer a questão. Nada! Resolvi então fazer denúncia ao editor do original inglês em Nova Iorque, a Bantan Books, o que fiz no dia 20 de Fevereiro de 1989, relacionando 56 erros existentes em somente 56 páginas, sendo que 48 desses erros haviam sido repetidos, dando um total de 104 erros! Uma calamidade! No dia 24/02/1989, distribui para a imprensa cópias da carta à Bantan Books, em Inglês e Português. Juntamente encaminhei relação das páginas onde se acham os erros, por exemplo, na página 124 havia 5 erros etc. Juntei também 4 páginas especificando 13 erros, isto é, comentando-os. No dia 02/03/89, o “Jornal da Tarde” foi o primeiro a comentar os erros que eu havia denunciado, numa matéria em 3 colunas sob o título “Contestada tradução de Uma Breve História do Tempo”. No dia 04/03/89, foi a vez do “Estado de S. Paulo”, que ocupando um quarto de página e com a minha foto apresentando o original e a tradução da obra, abria a matéria em três colunas sob o título “Livro de Hawking tem 65 erros de tradução”. A matéria reproduziu alguns dos 13 erros comentados que enviei. “O Diário Popular”, na edição de 05/03/89. A revista “Veja” em página inteira, na edição de 15/03/89 comentou minha denúncia, a “Folha de S. Paulo” em 18/03/89. Em Nova Iorque, a Editora Bantan Books enviou minha denúncia ao agente literário de Stephen Hawking, Anthony Chase, que me escreveu em 27/03/89. No dia 08/04/89, na Universidade Cambridge, a esposa do Físico Stephen Hawking, Sra. Jane Hawking esereveu-me carta de próprio punho, agradecendo-me por ter defendido o seu marido, enviando-me a impressão digital do Físico que não pode escrever. No dia 02/05/89, escrevi à Sra. Jane Hawking pela amável carta que me enviara. No dia 06/06/89, a Sra. Jane Hawking escreveu-me a carta da Universidade de Cambrigde (Inglaterra). As cartas de Jane Hawking estão nas páginas seguintes em tamanho natural e respectivas traduções. (Nota: O Físico Stephen Hawking sofre desde a juventude, de uma doença degenerativa — esclerose lateral amiotlófica—, que impede os movimentos, obrigando-o a viver em cadeira de rodas impedindo-o de escrever; sua assinatura é sua impressão digital).

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5 WestRoad - Cambridge CB3 9DP - Telefone (0223) 351905

 

08 de Abril de 1989

 

Prezado Professor Ferreira,

Muito obrigado por sua carta de 20 de Fevereiro de 1989 apontando o erro na tradução brasileira do livro do meu marido Uma Breve Historia do Tempo. Como nem o meu marido nem eu sabemos falar Português, não pudemos fazer a revisão da tradução brasileira. Entretanto, estamos preocupados com a possibilidade do trabalho do meu marido ter sido muito distorcido no Brasil e eu, por conseguinte, estou escrevendo para solicitar que seu agente leve o assunto ao conhecimento e deliberação do editor. Espero, talvez, que eles o procurem em busca de conselhos. Estamos muito gratos por sua ajuda e por isso lhe agradecemos muito e enviamos nossas melhores saudações.

Atenciosamente,

Jane Hawking

Estou anexando uma impressão digital do seu marido como uma dedicação para sua versão em Inglês.

Para o Professor Ferreira
(IMPRESSãO DIGITAL DE STEPHEN HAWKING)
De Stephen Hawking


(Tradução: “ALA-Traduções”. São Paulo - SP)

 

5 West Road • Cambridge CB3 9DP • telephone (0223) 351905

6th June, 1989

Dear Professor Ferreira,

Thank you so much for your kind letter of 2nd May. My husband and I are very grateful to you for drawing our attention to the errors in the Brazilian version of'A Brief History of Time'. Clearly they represent an injustice both to the author and to the purchaser and we are very glad that your comments have enabled us to put pressure on our agent to do something about them.

I hope you have received a satisfactory response from Anthony Chase. I am so pleased that you yourself have been able to read and appreciate the book in its original form.

Please accept our very best wishes,

Yours sincerely,

Jane Hawkins

 

E West Road • Cambrigge CB3 9DP • Telefone ( 0223) 351905

6 de Junho de 1989

Prezado Professores Ferreira,

Muito obrigado por sua gentil carta do dia 02 de Maio. Meu marido e eu estamos muito gratos por termos recebido sua atenção aos erros ocorridos na versão brasileira do livro “A Brief History of Time” (Uma Breve Historia do Tempo). Claramente esses erros representam uma injustiça tanto para o autor como para o comprador do livro e estamos muito satisfeitos por seus comentários terem nos possibilitado pressionarmos nosso agente para fazer alguma coisa a respeito deles.

Espero que o Sr. tenha recebido uma resposta satisfatória de Antony Chase. Estou muito satisfeita que o Sr. pessoalmente pôde ler e apreciar o livro em sua forma original.

Queira aceitar nossas melhores saudações,

( assinado)
Jane Hawking

(Tradução: “ALA - Traduções”. São Paulo - SP)

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No inicio de 1993, verifiquei que estava fazendo exatamente 400 (quatrocentos) anos que havia chegado do Sertão do Paraupava, a Bandeira de Domingos Luis Grou-Antônio de Macedo, tendo sido recebida na Câmara da República da Vila de São Paulo de Piratininga. Tendo saído em começos de 1590, ficara quatro anos no Sertão do Paraupava. Por essa razão, propus, no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, que se comemorasse condignamente essa data tendo sido formada a Comissão do 4° Centenário da Bandeira de Domingo Luis Grou-Antônio Macedo, sendo o Presidente do Instituto Hernani Donato, o Presidente de Honra da Comissão e eu, o Presidente Executivo. Infelizmente o total desinteresse das autoridades pela data, fez com que a Comemoração ficasse circunscrita ao âmbito do Instituto. Evidentemente, estou me referindo de maneira geral, pois é justo assinalar que o “Jornal da Tarde” de S. Paulo-SP, deu-me uma página para publicar um artigo sobre esse evento o que fiz e o então Prefeito Sólon Borges dos Reis, em exercício, decretou que, no âmbito da Prefeitura de São Paulo, a data fosse condignamente comemorada pela sua Secretaria da Cultura, o que não aconteceu porque logo depois o Prefeito reassumiu e proibiu qualquer comemoração.

Mas aquela Bandeira de Domingos Luis Grou-Antônio de Macedo, foi a primeira cujo documento diz expressamente que ela fora ao Sertão do Paraupava, gerando um movimento Bandeirante ininterrupto em direção ao então desconhecido Interior do Brasil, devassando-o, revelando-o, constituindo, para a época, um movimento científico, sendo os seus sertanistas, os seus Bandeirantes, os primeiros e grandes Geógrafos da nossa História, enviando informações a Portugal para que os cosmógrafos, cartógrafos as incluíssem nos primeiros conhecimentos sobre o Interior do Brasil.

A esse movimento sertanista, Bandeirante que durou ininterruptamente 28 anos, de 1590 a 1618, dei a denominação de CICLO PARAUPAVA.

Aquele “CICLO PARAUPAVA”, do qual falei no item anterior, resultou em profundas pesquisas nos documentos, levando-me a escrever o livro “A LAGOA DOURADA” (ainda inédito), do qual dou uma rápida informação em seguida.

Antes dos Descobrimentos havia, entre os índios da América do Sul, o mito de uma Lagoa riquíssima em ouro, prata e pedras preciosas, principalmente esmeraldas; junto à Lagoa existia uma cidade igualmente rica. Os índios informavam também que os grandes rios tinham origem na célebre Lagoa. Os primeiros povoadores portugueses começaram a fazer os mapas do Brasil, mostrando a Lagoa e nela fazendo nascer os três grandes rios: Paraguai, São Francisco e Paraupava (hoje Rio Araguaia). Essa era a cartografia indígena do interior da América Portuguesa. Portanto, para alcançar a Lagoa Dourada (ou Vupabuçu, Paraupava, Eupana Lacus, Alagoa Grande), bastava subir um desses três rios.

Esse livro relata a intensa procura da Lagoa Dourada, desde o seu início até hoje, isto é quase cinco séculos. Pois o mito da Lagoa Dourada está ainda hoje bem vivo em muitos lugares do Brasil, inclusive entre os índios do Alto Xingu. Ao longo desses quase 500 anos, reis, governadores gerais e das capitanias, escritores, cientistas cartógrafos, religiosos, militares, historiadores, nobres e plebeus, índios, aventureiros, sertanistas, bandeirantes, todos estavam profundamente envolvidos com a Lagoa Dourada, que era o pensamento geral. Foi a Lagoa Dourada (também chamada Vupabuçu, Paraupava, Eupana Lacus, Lago do Ouro ou Alagoa Grande), causa das Bandeiras do Espírito Santo, de Porto Seguro, Bahia, Pernambuco e... particularmente das Bandeiras de São Paulo, as primeiras que indo à sua procura, devassaram, exploraram e povoaram o interior da América Portuguesa, inclusive expandindo suas fronteiras além da Linha de Tordesilhas. Tornaram-se os Bandeirantes, os primeiros Geógrafos do Brasil. Escrito somente com documentos e mapas históricos inéditos, “A Lagoa Dourada” não é um livro árido, pois revela, pela primeira vez, uma história fascinante. “A Lagoa Dourada” não é copia de nenhum outro livro sobre o assunto mesmo porque não há qualquer outro historiador que a relatasse, encadeando os fatos relativos à Lagoa ao longo de quase 500 (quinhentos) anos.

“A Lagoa Dourada” deveria ter sido publicada no ano 2000 para comemorar o 500° Aniversário do Descobrimento do Brasil, mas como não seria possível, fiz-lhe uma condensação a que dei o titulo de “O 2° Descobrimento do Brasil: o Interior”. Com 69 páginas acrescentando mapas antigos inclusive duas páginas em cores, mais o mapa do cartógrafo português Antônio Sanches, executado em 1641, onde se vê claramente escrito “Rio Paraupaba”, onde hoje é o Rio Araguaia, inclusive representada a Ilha Paraupava (hoje Ilha do Bananal).

No dia 09 de Outubro de 2003, durante a solenidade de entrega aos vencedores do 25° Prêmio Clio de História, promovido pela Academia Paulistana da História, anunciei pela primeira vez e publicamente que essa entidade da qual eu era o Presidente, declarava que é o PADRE ANTÔNIO DE ARAÚJO S. J.,o Primeiro Historiador das Bandeiras de São Paulo, por ter escrito em 1622-23 uma notícia sobre o Caminho por terra, da Vila de S. Paulo de Piratininga a Belém do Pará descrição essa que lhe fora fornecida pessoalmente pelos Bandeirantes do “Ciclo Paraupava”, principalmente descrevendo a Bandeira de André Fernandes (1613-1615).

 

MINHA AUTOBIOBIBLIOGRAFIA INCOMPLETA

Ao escrever a minha Biografia juntamente com a minha Bibliografia, chamei-a de Parcial, no sentido de que era incompleta, além de ser resumida. Futuramente pretendo escrevê-la de forma completa, mas parece-me oportuno rever algo mais que os meus arquivos ainda contêm, e que peço licença para os revelar em seguida.

No dia 25/07/1957, A GAZETA anunciava uma reportagem de minha autoria, intitulada “Roteiro Aéreo do Brasil Central e Amazônia”, a primeira da série publicada no dia 26/07/1957 e a 15a, e última em 24/08/1957. Foram, pois, quinze reportagens de páginas inteiras do jornal, com fotografias tiradas por mim e também os textos, onde descrevi essa viagem em avião oficial exclusivo, percorrendo todos os campos de aviação, inclusive junto às aldeias indígenas, aos rios, igarapés etc. Essa reportagem é um retrato perfeito do que era todo o Interior do Brasil há exatamente 46 (quarenta e seis) anos. Dará um livro.

Reportagem extensa sobre o Eclipse Solar em 20 de Maio de 1947 na localidade de Bocaiúva em Minas Gerais. Parti para lá a fim de acompanhar os trabalhos dos cientistas norte-americanos, que tinham o apoio total da Força Aérea dos Estados Unidos. Antes de partir, deixei três matérias escritas por mim e com ilustrações, sobre o que é um eclipse, publicadas mas edições de 13, 14 e 16 de Maio, quando eu já me encontrava em Bocaiúva, de onde mandei reportagens e fotos sobre a cidade, muito pobre, sem veículos para se alugar, e o grande campo de observação do eclipse, em pleno cerrado da região, campo organizado pela Força Aérea Americana. E o que é mais: tudo fotografado, tendo chegado a São Paulo, de trem (não havia avião), na manhã do dia seguinte, permitindo que A GAZETA publicasse as fotos do Eclipse, antes de qualquer jornal do Brasil. Um autêntico “furo” jornalístico, que para ser contado em detalhes é preciso espaço, que não tenho aqui. Mas, após, publiquei reportagens com fotos do Acampamento dos Cientistas Norte-americanos e finalizando, na edição d’A GAZETA de 28/05/1947, com uma reportagem (texto e fotos) sob o título “A Missão Científica Fino-Brasileira”, um campo que cientistas finlandeses e brasileiros haviam construído sete quilômetros além do Campo Norte-americano, e que passara despercebido da Imprensa. Nessa reportagem de 28/05/1947, ao relatar aquele Campo Fino-Brasileiro com fotos, escrevi:

“... parece-me que (a nós brasileiros) nos cabe uma grande responsabilidade no referente ao desconforto e à extrema penúria em que todos se acham ali”.

Penso que foi A GAZETA o único jornal brasileiro a mostrar a extrema pobreza daqueles cientistas finlandeses e brasileiros, diante da fantástica riqueza dos norte-americanos.

Ora bem, eu havia dito logo no começo que iria somente fazer uma breve relação de mais atividades que, no campo do Jornalismo e da Pesquisa Histórica, eu havia produzido. Mas considero-me incapaz de estabelecer limites quando começo a escrever e pior: tudo que afirmo acho-me na obrigação de provar, daí a minha paixão pelo documento histórico. Assim, eu deveria simplesmente relacionar tudo que possuo nos meus arquivos, nada mais; seria pois o que antigamente se chamava de “Razão”, isto é, um livro onde, com esse título tudo seria relacionado. Era o que nos velhos tempos chamava-se “Livro Razão”, e no qual tudo se documentava, por isso era um repositório do que se passava na casas comerciais, principalmente. Mas, não percamos tempo, continuaremos, ou melhor, volto à minha Razão.

Uns vinte dias antes da inauguração de Brasília, o Diretor d’A GAZETA perguntou-me se eu poderia ir à futura Capital do Brasil fazer uma reportagem para a edição do vespertino, que seria publicada naquele dia. Fui, fiquei lá cerca de dez dias, fotografando e anotando tudo. No dia aprazado, o vespertino foi publicado somente com as minhas reportagens que, nas edições seguintes do jornal, foram repetidas diariamente.

No início da década dos 40, passei a freqüentar uma região quase desconhecida, o Litoral Norte de São Paulo, tendo escrito reportagens particularmente das cidades de Caraguatatuba, São Sebastião e a Ilha de São Sebastião. Nessa época, não existia a Rodovia Rio de Janeiro-São Paulo ao longo do Litoral, por isso, só existiam duas possibilidades de comunicação: 1) a Rodovia São José dos Campos-Caraguatatuba-São Sebastião. 2) A ligação marítima das cidades litorâneas com Santos, por meio de embarcações, a mais conhecida era o navio “Carl Hoepeck”, que fazia essa linha regularmente, com horários certos. Além das reportagens, eu apreciava bastante as matérias que eu mesmo escolhia e escrevia, como por exemplo como meu amigo indigenista e sertanista Francisco “Chico” Meireles, que veio a São Paulo buscar a lancha “Pimentel Barbosa” sobre a qual dei notícia n’A GAZETA de 21/11/1946, sob o título “Do Tietê ao Araguaia” com fotos, e no dia seguinte, 22/11, uma extensa entrevista com o mesmo Chico Meireles, na qual ele relatou como conseguira pacificar os Xavantes (escrevia-se Chavantes), com as fotos dos momentos dos encontros com esses índios, fornecidas pelo próprio Meireles. Outra matéria, por exemplo, teve o título “A Festa do Divino em Tietê”, publicada em 31/12/1947, resultado da viagem que eu mais o Américo Bologna fizemos até lá para participar dos Festejos. E por falar nisso, fiz muitas reportagens no Sertão da Serra da Mantiqueira, além de Monteiro Lobato (ex-Buquira), com meu amigo José Lemos de Freitas, onde em meio da mata virgem, ele tinha uma casa de pau-a-pique coberta de sapé, e era costume a gente passar a noite inteira participando da “Dança de São Gonçalo”, que os caipiras realizavam freqüentemente; aliás sempre gostei das festanças ouvindo modas de viola e mesmo dançando o “cateretê (catira)” tanto aqui em São Paulo, como em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Ora bem, eu estava falando do nosso folclore, desviei-me do assunto principal que eram minhas atividades no campo do Jornalismo e da História. E ao revirar agora esse meu arquivo, fui encontrar as matérias que publiquei no vespertino, sobre Física Nuclear, com ilustrações feitas por mim, objetivando tornar esse assunto acessível ao grande público, particularmente Radioatividade e as Rochas Radioativas de Águas da Prata (SP) e Poços de Caldas (MG), sua importância nas Centrais Nucleares, inclusive nas Bombas Atômicas, cuja fabricação expliquei com gráfico por mim feito também.

Há pois muito a achar nesse meu arquivo, não somente as grandes reportagens, as grandes entrevistas, as grandes matérias, os grandes artigos sobre os mais diversos assuntos sobre atualidades tudo isso acha-se ainda guardado, devido a esse meu vezo de guardar tudo. Evidentemente esse meu espírito eclético foi sempre — e ainda é hoje — produto de um grande esforço de pesquisa, de trabalho no campo da Cultura Geral. Eram exatamente esses conhecimentos que eu obtinha à minha custa, que muitos consideravam ser-lhes uma ofensa e até uma provocação. Que isso era verdade, passo a provar com documento, em seguida.

A REVOLTA DA MEDIOCRIDADE

Sempre fui o que hoje se denomina “free-lance”, isto é um jornalista sem vínculo empregatício com qualquer empresa jornalística ou não. Já relatei de como cheguei à Redação d’A GAZETA, em Janeiro de 1941, sem ser levado pela mão de ninguém, sem nenhuma apresentação. Fui como simples leitor do vespertino, temeroso até de não ser recebido, afinal era a primeira vez em minha vida que eu entrava num jornal e quando percebi, eu era um colaborador, isto é um “free-lance” n’A GAZETA, afinal um jornalista diferente dos de “status” que os colocavam acima de todos, isto é, os que se vangloriavam de serem “do tempo do Casper”. Chegavam à Redação como todos, às seis ou sete da manhã e terminavam o seu período ao meio-dia, quando a sereia d’A GAZETA anunciava essa hora e que também o vespertino começava a ser distribuído. Entretanto, havia um do “tempo Casper”, mas que não alardeava essa condição, era ele Américo Bologna, o Secretário d’A GAZETA que chegava às seis da manhã, almoçava no próprio jornal (no restaurante do 8° andar, chamado “Roof” e que à noite era transformado num luxuoso ambiente onde desfilava a elegância paulistana). Terminado o almoço, Américo Bologna voltava à Redação onde, em sua mesa, atendia os que procuravam o jornal, geralmente para solicitar alguma notícia: autores de livros, intelectuais em geral, artistas das artes cênicas, artistas plásticos, empresários das atividades econômicas, os amigos particulares para uma simples conversa, enfim, à todos Américo Bologna dava atenção e durante essas tardes todas permanecia ele só na grande Redação agora vazia, silenciosa, diferente do período da manhã quando todos se achavam empenhados em preparar a edição do dia, numa apressada atividade. Pelas seis horas da tarde, o incansável Secretário regressava à casa, para dedicar-se à Família, a esposa Clotilde e o único filho, o hoje ilustre Regente Ronaldo Bologna, diretor da Orquestra da Universidade de São Paulo (USP). Poderia o secretário conseguir um emprego de alto funcionário público estadual ou municipal, dadas as suas relações com todos os políticos que também o procuravam para se promoverem nas páginas do vespertino, como acontecia com muitos outros jornalistas, pois nessa época não se exigia concurso público. Tinha Américo Bologna a dedicação pelo jornalismo que o tornava alvo da ciumeira surda, da inveja dos confrades que, como ele, eram os “descendentes do Casper”, como todos diziam, “descendentes sentimentais”, mas não herdeiros, pois o proprietário d’A GAZETA instituiu a Fundação que teria o seu nome, mas não dava a ninguém os direitos de “herdeiros”, os quais continuariam com os seus direitos trabalhistas somente, pois a Fundação teria um Conselho Diretor cujos membros não poderiam ser obrigatoriamente os jornalistas do vespertino, podendo mesmo ser individualidades estranhas, como aconteceu. O vespertino A GAZETA era a “mina de ouro” da Fundação, que se tornava cada vez mais rica. Tão rica, que nos finais de cada ano destinava a todos os membros da sua Folha de Funcionários, uma parte desses lucros, e essa parte era tão grande, que um porteiro do Prédio na Avenida Casper Libero, ao recebê-la, foi passear na França com a esposa. Devo esclarecer que eu, como mero “Free-lance”, não recebia nada desses lucros, pois embora meus trabalhos aumentassem consideravelmente a circulação do vespertino, conseguindo-lhe ainda mais anunciantes, isto é, mais lucros, nunca participei desses lucros. Eu só recebia pelo que publicava, como qualquer colaborador. Devo deixar bem claro que não estou fazendo agora qualquer protesto contra essa situação, com a qual estive sempre de acordo, por uma razão muito pessoal que deixei bem clara, conforme já esclareci. Mas, embora eu não fosse um “descendente de Casper Libero”, por quê razão eu gosava de tanto prestígio nas páginas d’A GAZETA? A resposta já a dei nesta minha resumida Biobibliografia. Exceto Américo Bologna, os restantes “descendentes do Casper”, toleravam-me nas páginas do vespertino porque eu lhes era útil. Mas, eu estava plenamente consciente dessa situação. Aliás, o mais notório “descendente do Casper”, era jornalista Gumercindo Fleury, que na segunda página do jornal publicava uma coluna sob o título “Dia a Dia”, crônicas muito leves, muito à maneira das composições escolares que no Curso Primário nossos professores exigiam que as fizéssemos. Esse jornalista, quando me cumprimentava, fazia-o assim: — “Como vai o gênio”? Era uma forma de tentar me humilhar, desde que, culturalmente falando, ele como alguns outros, consideravam-se inferiores, pois minhas reportagens, minhas matérias, meus artigos não eram vazios de informações, desde que antes de os escrever, eu os pesquisava, muito além dos meus conhecimentos obtidos nas áreas da Cultura em geral. Eu inaugurava um tipo de Jornalismo que hoje se denomina “investigativo”. Ora, um dia os “herdeiros do Casper” consideravam que deviam assumir o vespertino, isto é, dominá-lo e fazer da “fábrica de dinheiro”, um jornal moderno. Era a mediocridade astuta em ação. Mas como fazer a verdadeira revolução que estavam tramando talvez há muito tempo? Para tanto, os “herdeiros do Casper” conseguiram influenciar os Conselheiros da Fundação, principalmente o seu Presidente, convencendo-os da necessidade de mudar o visual do vespertino, dar-lhe um novo sentido, uma nova roupagem, enfim conservando-lhe somente o nome: “A GAZETA”. E certo dia, os dirigentes da Fundação destituíram Américo Bologna do cargo de Secretário do jornal e praticamente proibiram-no mesmo de freqüentar a Redação, pois determinaram-lhe que ficasse confinado a uma mesinha sem nada para fazer, na sala da Biblioteca, que de biblioteca só possuía o nome, pois ninguém a freqüentava, constituía uma solidão completa. Deixo de mencionar os que foram atingidos pela reforma, digo pela “Revolução da Mediocridade”, ou melhor, pela “Revolta da Mediocridade”, e passarei agora a falar de mim mesmo, um dos atingidos pela insanidade dos “revolucionários”, digo dos “revoltosos” ou “revoltados”. Imediatamente recebi um emissário deles que me informou: — “O colaborador Manoel Rodrigues Ferreira está, doravante proibido de publicar nas páginas d’A GAZETA, o que quer que seja, reportagens, matérias, artigos”, enfim tudo que estiver por mim assinado, aliás o meu próprio nome estava proibido de aparecer no jornal, sob qualquer pretexto. E o emissário que me procurou para dar essa notícia, concluiu: — “Considerando os laços (sentimentais) que o ligam ao vespertino, ser-lhe-á dado o cargo de “noticiarista” com direito a uma mesa na Redação e a obrigação de cumprir o horário normal de trabalho, das sete da manhã ao meio-dia. E foi solicitada a minha Carteira do Ministério do Trabalho para a necessária anotação. Essa “Carteira Profissional”, n° 469.835 como era chamada eu a tirara em 1941, quando me tornara professor de Matemática, Física e Desenho Geométrico em 1939. E agora servia para mais uma anotação: “Jornalista Profissional”. O encarregado de admitir funcionários na Fundação, Hugo Carbone fez a necessária anotação na minha Carteira Profissional: “Natureza do Cargo: Noticiarista: data da Admissão: 1° de Janeiro de 1962”. Simplesmente para conhecer mais um aspecto da atividade jornalística, decidi-me a permanecer nessa função durante seis meses, quando deixei o emprego tendo sido anotado na minha Carteira Profissional: “Data de Saída, 15 de Julho de 1962”. Entretanto, continuei freqüentando a Redação do jornal, onde eu ainda tinha bons amigos, todos eles intelectuais, como os escritores Judas Isgorogota (Agnelo Rodrigues de Melo), Corrêa Júnior, Roberto Fontes Gomes, Hélcio Carvalho Castro, Nelson de Azevedo e outros cujos nomes não me ocorrem no momento em que escrevo estas linhas. Assim, eu pude ser um observador dos que estavam dominando a pobre “A GAZETA”. Dentre os absurdos havidos, o de que fora convidado um jornalista do “Diário de S. Paulo” (Diários Associados de Assis Chateaubriand) para colaborar no vespertino, onde ele inaugurou uma seção de um quarto de página intitulada “Gazetilha” com esse cabeçalho, numeração própria iniciando em “Ano I n° l”, enfim tratava-se de um novo diário dentro da própria GAZETA, fazendo-lhe concorrência! Quanto ao aspecto gráfico do vespertino, só restou o nome, era uma lástima, pois os “revoltados” destinavam grandes espaços em branco para as manchetes e títulos das matérias e notícias, certos de que isso era ser “moderno”. Era a total pobreza profissional, cultural, intelectual, dominando totalmente o vespertino, sem saber o que fazer com ele! E os jornalistas remanescentes, o que diziam? Nada! Quem seria doido de fazer qualquer crítica aos “gênios do jornalismo”? Aliás, havia um momento em que a Redação esperava com grande dose de humor: era quando, cerca das 11:30 o chefe da oficina subia com alguns exemplares que já estavam sendo rodados e os entregava ao Fleury, que subia pressuroso a escadaria (ele tinha medo de andar de elevador) e os ia entregar ao Presidente da Fundação no 3° andar, onde permanecia até ao meio-dia em conversas das quais todos simplesmente adivinhavam. Mas e o público, os leitores, como reagiam ao novo vespertino, que era nada mais do que um fantasma da velha GAZETA? Esse, o povo simplesmente virou-lhe as costas, refugando um produto com o qual antes mantivera um relacionamento que não era simplesmente material, mas de natureza profundamente espiritual. E à medida que a circulação caía, o número de anunciantes diminuía, e aumentava o sorvedouro de dinheiro que era a construção do novo edifício na Avenida Paulista chamado de “elefante branco”, que também era pela sua completa ausência de estilo arquitetônico pois não era nem velho nem moderno, era uma concepção daquela mentalidade muito abaixo da mediocridade que se arvorara em fazer um jornal “moderno” e na realidade destruíra-o. Estava pois a Fundação atolada em dívidas, pois matara o jornal vibrante que lhe rendia lucros formidáveis, ao satisfazer o desejo de alguns incompetentes “herdeiros do Casper”. E ali, na Av. Paulista na nova Redação, instalada num grande salão vazio, de chão sem piso decente simplesmente de cimento mal acabado, alguns jornalistas compunham o triste quadro do silêncio que contrastava com a ativa alegria no edifício da Av. Casper Libero, quando os anunciantes chegavam ao Balcão de anúncios e ouviam a recusa: “para amanhã não há mais espaço para anúncios”! Agora, quando o jornal caíra de cem mil exemplares diários para só dois mil, um angariador de anúncios contratado, vagava pelos corredores frios e sem vida do novo Prédio da Paulista, procurando dar ânimo aos ainda poucos que restavam: “— eu vou falar com a agência tal, com o anunciante tal, eu vou conseguir”! Na realidade, o anúncio que ele prometia como uma salvação, ecoava através da tristeza ambiente como um anúncio fúnebre.

Em Janeiro de 1941, como um simples leitor d’A GAZETA, eu subira, pela primeira vez, à Redação através de um elevador rápido, límpido, brilhante, moderno. Agora eu não era nem mais um leitor, pois o vespertino morrera e eu assim descia vagarosamente pela vasta escadaria do novo Prédio da Paulista, levando comigo lembranças da época da grandeza na Casper Libero.

RECAPITULANDO

PARQUES OFICIAIS IDEALIZADOS POR MIM (três)

Denominação

Data

Criado Por

Parque Indígena do Xingu

“A GAZETA”
27/10/1948

Governo Federal

Parque Estadual do Alto Ribeira (com José Epitácio Passos Guimarães)

“A GAZETA”
24/11/1956

Governo do Estado de São Paulo

Parque Estadual dos Martírios

“MANCHETE”
20/05/1972

Governo do Estado do Pará

 

DENÚNCIAS PÚBLICAS FEITAS POR MIM (três)

A Falsa História do Brasil

24/01/1958

O Programa de Ensino da História do Brasil Exigido pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo

26/07/1958

A tradução “Uma Breve História do Tempo”

24/02/1989

 

ALGUMAS REFERÊNCIAS FEITAS A MIM:

LUÍS DA CÂMARA CASCUDO, folclorista, historiador, escritor e jornalista enviou-me em papel timbrado da Faculdade de Direito da Universidade de Rio Grande do Norte, onde era Professor Catedrático de Direito Internacional Público, a seguinte carta, um ano após a publicação do meu livro “O Mistério do Ouro dos Martírios”:

“Natal, 22 de março de 1961.

Dr. Manoel Rodrigues Ferreira.
Porandiuasara!

Quatro horas ininterruptas de leitura. Outras três pela noite. Cheguei também aos Martírios, revendo a história velha de tantos passos nas estradas que as sapatorras iam abrindo no mato e lama sem fim. Fiquei com saudades do ambiente, dos homens, seduções, problemas, sonhos, enganos, mentiras, perfídias, coragens, avançando nos chapadões, pantanais e araxás sem nome, empurrando o Meridiano para Oeste. Um livro feito de gente, sonoro de esforço, contagiando a emoção de outrora.

Não é disso que se trata. O que quero dizer é sobre o evocador dessas gestas, o atualizador dos assombros normais desses que foram, positivamente, “em perigos e guerras esforçados”.

O livro que ressuscita o Passado quase sempre é escrito no estilo do passado. Um livro sem Clio, musa da História. Clio tartamudeante, gagá, num silêncio que afasta a continuidade leitora. E preciso coragem e obstinação de jumento andaluz para ir-se ás ultimas páginas, dando graças a Deus que o bandeirante haja morrido da doença que Deus lhe deu, façam leilão e passamos ao final.

Ortega y Gasset dizia “um libro de ciência tiene que ser de ciência; pero también tiene que ser um libro”. Há livros de ciências que não são livros. Não transmitem mas sopram, estertoram, gemem a ciência, espelhando sabedoria e sonolência em dinamizações idênticas. Seu livro é livro de História mas también, hombre de Dios, es un grande libro! Livro agitado, claro, serelepe, sacudido, humano, contando, conversando, sacudindo o leitor, seduzindo-o, mentindo para ele, fazendo-o cúmplice, companheiro, arrolado na Bandeira. Livro, livro de verdade. Eis aí o que lhe queria dizer, agradecendo sua bondade. Mandou dizer El-Rei meu Senhor que faça outro”.

[imagem]

JOSÉ NERI DA SILVEIRA e WALTER COSTA PORTO. No ano de 2001, o Senado Federal juntamente com o Tribunal Superior Eleitoral publicaram o meu livro “A Evolução do Sistema Eleitoral Brasileiro”, em magnífica edição promovida pelo Conselho Editorial do Senado Federal, tendo sido longa “Apresentação” feita pelo Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Ministro José Neri da Silveira da qual destaco o seguinte trecho:

“5. A edição da obra A Evolução do Sistema Eleitoral Brasileiro, de autoria do ilustre professor paulista, Dr. Manoel Rodrigues Ferreira, com erudito prefácio do eminente Ministro Walter Costa Porto, que o Tribunal Superior Eleitoral, juntamente com o Senado Federal, ora promovem, contribuirá, indiscutivelmente, não só para a divulgação da legislação eleitoral brasileira, numa perspectiva histórica, mas de forma particular, para propiciar aos estudiosos do processo eleitoral o conhecimento de experiências legislativas já vividas pelo povo brasileiro, no exercício dos direitos políticos e na prática da democracia representativa, ensejando, a todos, novas reflexões sobre esses institutos do Direito Eleitoral no País.”

Em seguida, escreve extenso Prefácio o Ministro Walter Costa Porto, do Tribunal Superior Eleitoral, do qual transcrevo o seguinte trecho:

“4. Daí que, em um País sem memória, seja tão oportuna a reedição deste livro de Manoel Rodrigues Ferreira, com um relato cuidadoso da História de nossos procedimentos eleitorais desde quando, ao se embrenharem nos sertões, os bandeirantes paulistas “iam imbuídos da prática do direito de votar e de ser votado”. E o Ministro Walter Costa Porto transcreve o seguinte trecho do historiador João do Couto sobre Manoel Rodrigues Ferreira: “...o denominam de novo bandeirante, que não só veio varando os nossos mais desconhecidos sertões, mas descrevendo-os em suas reportagens, fotografias e livros. Se foi um desbravador dos sertões, foi e continua sendo o grande desbravador do nosso passado, com suas pesquisas nos documentos dos arquivos”: (In “O 2° Descobrimento do Brasil: o Interior”).

PAULO BERTRAN, historiador, sociólogo escreveu em seu grande livro “História da Terra e do Homem no Planalto Central” (Brasília, 1994):

“Manoel Rodrigues Ferreira, indubitavelmente o maior pesquisador sobre as Bandeiras paulistas do Oeste e ao qual devemos creditar, além do instigante O Mistério do Ouro dos Martírios, o formidável As Bandeiras do Paraupava, de 1977, que confirma, de maneira notável teses do primeiro livro (pág.30)”. “Quanto à Cartografia Antiga, inclusive aquela aqui reproduzida, recorremos ao formidável álbum do Dr. Manoel Rodrigues Ferreira, As Bandeiras do Paraupava”. (pág. 45). “Bartolomeu Barreiros de Ataíde, que saiu de Belém em 1644 atrás de minas de ouro. Esteve entre os índios Carajá e trouxe notícia de um massacre de bandeirantes paulistas que teriam minerado ouro no Araguaia — muito provavelmente a bandeira de André Fernandes — como acredita Manoel Rodrigues Ferreira, o maior estudioso que modernamente temos sobre esses assuntos”, (pág. 54). “Dizem os irmãos ” Ferreira, Tito Livio e o grande Manoel — historiador das bandeiras ocidentais — que a maçonaria no Brasil antigo (talvez no moderno) podia dividir-se em duas diferentes linhagens...)”. (pág.238).

FRANCISCO MARINS, escritor, em seu conhecido livro de ficção para a juventude, “Expedição aos Martírios” (São Paulo, 1952), assim o ofereceu-me:

“Ao prezado amigo Manoel Rodrigues Ferreira que, com seu magistral livro sobre o Xingu e os Martírios, tornou possível esta novela. Um abraço do

Francisco Marins

S.P., 31/07/1952”

Em seu livro mais recente, o “Em Busca do Diamante — A Volta da Expedição aos Martírios” (1995), Francisco Marins ofereceu-me um exemplar com os dizeres:

“Ao meu estimado

Manoel Rodrigues Ferreira

que, com seus belos e aprofundados estudos e sua busca pessoal dos Martírios, inspirou estas narrativas despretensiosas, mas que, certamente, divulgam entre os jovens, o tema que você tão bem vem tratando.

Homenagem e abraços do
Francisco Marins
1995”

FRANCISCO FOOT HARDMAN, historiador, sociólogo e Prof. Dr. da Universidade de Campinas (SP), Autor do livro sobre a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré intitulado “Trem Fantasma: A Modernidade na Selva” (São Paulo, 1988), assim dedicou-o aos dois engenheiros que relataram a História da Construção dessa Ferrovia, o primeiro sobre as tentativas fracassadas no Século 19, e eu, sobre a construção no Século 20 (1907-1912), dedicatória que transcreve a seguir:

“Homenagem aos escritores Neville B. Craig e Manoel R. Ferreira os primeiros arqueólogos da Madeira-Mamoré, quando na poeira da História ainda cintilavam narrativas”.

No texto desse livro, Francisco Foot Hardman escreveu (o parêntese é meu):

“As narrativas belas e tristes de Neville B. Craig (1905) e Manoel Rodrigues Ferreira (1960) me causaram tanta impressão que a aventura (de escrever o Trem Fantasma) já teria valido a pena se, ao menos conseguisse contar de novo a mesma história com aquele idêntico equilíbrio entre engenho e arte, melancolia e ingenuidade”.

JOSÉ SEBASTIÃO WITTER, historiador, Prof. Dr. Da Universidade de São Paulo (USP) e Diretor do Museu Paulista da USP (ex-Museu do Ipiranga), ao fazer a Apresentação do livreto de 60 páginas intitulado “Madeira-Mamoré: Trilhos e Sonhos,” editado pelo BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) em 2000 através do seu vice-Presidente Pio Borges e que foi também o doador do acervo dos negativos fotográficos feitos por DANA MERRILL durante a construção da E.F.M.M., e que se achavam em meu poder por ser seu descobridor, escreveu pois José Sebastião Witter a Apresentação, da qual destaco o seguinte trecho:

“É preciso ressaltar a figura de Manoel Rodrigues Ferreira, que durante muito tampo manteve sob sua guarda a preciosa documentação. Sabemos todos o quanto custa organizar e preservar a nossa história. Ele o fez com maestria pois, além de historiador e jornalista, deu asas ao seu espírito de arquivista destinado e determinado. O desejo de manter a documentação sob sua guarda e orientação, propiciou que outros pesquisadores encontrassem o tesouro e formulassem um projeto inteligente, que obteve aprovação do Ministério da Cultura (Minc). Foram eles Sílvia Maria do Espírito Santo e Pedro Ribeiro”.

PIETRO MARIA BARDI. Foi José Joaquim da Veiga Valle (1806-1874), nascido na localidade de Meia-Ponte, hoje Pirenópolis, em Goiás, um dos grandes escultores brasileiros do Barroco. Em 1977, quando dos grandes festejos havidos na Cidade de Goiás, comemorando-se os 350 anos da sua Fundação pelo Bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera II, o Governo do Estado de São Paulo fora especialmente convidado inclusive para receber uma medalha por ser São Paulo a terra natal daquele grande Bandeirante. O Governador de São Paulo invés de enviar uma luzida delegação àqueles festejos, já que ele ao menos deveria ir pessoalmente, mandou o mais humilde funcionário do Palácio dos Bandeirantes representar a Gente Paulista. Eu e meu amigo Múcio Porfírio Ferreira estávamos lá e ficamos revoltados com a atitude de desprezo do Governador Paulista para com nossos irmãos goianos. Foi então que resolvi tomar uma atitude que redimisse os Paulistas de tão grande ultraje feito a Goiás. Foi então que, para fazê-lo, pensei em trazer para São Paulo as esculturas de Veiga Valle e com elas fazer uma grande exposição do grande escultor que viveu a maior parte de sua vida na Cidade de Goiás, a ex-Vila Boa fundada pelo Anhanguera II. Levei a idéia ao Prof. Pietro Mario Bardi, diretor do MASP (Museu de Arte de São Paulo) que se prontificou a ceder o Salão de Honra de Exposições, o Salão Nobre para a Mostra Veiga Valle exclusivamente. No mesmo momento, isto é, no dia 02 de Fevereiro de 1978, o Prof. BARDI enviou ofício à Diretora do Museu de Arte Sacra da Boa Norte, na Cidade de Goiás, Sra. Antolinda Borges, que assim começa:

“Temos o grato prazer de comunicar à Vossa Senhoria que o Dr. Manoel Rodrigues Ferreira, presidente da Ordem Nacional dos Bandeirantes, desta Capital, entrou em contato com este Museu, no sentido de ser promovida uma exposição das esculturas da Veiga Vale, que se acham no Museu de Arte Sacra da Boa Morte, tão superiormente dirigido pela ilustre Diretora.

Relativamente ao assunto temos a informar que o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand concordou inteiramente com a idéia e, relativamente a essa promoção, que também fazemos nossa, comunicamos à vossa senhoria, o que segue”:

Em seguida, o Prof. Bardi enumerou cinco itens nos quais informa tudo que o MASP iria fazer para o maior êxito da Promoção, terminando o ofício, assim:

“Sendo só o que se nos oferece no momento, temos a informar que o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand sente-se honrado por integrar-se, dessa maneira, nas comemorações do 250° aniversário da Cidade de Goiás”.

(Nota: o ofício retro acha-se publicado na integra no volume “Veiga Valle” de Elder Camargo de Passos, Goiás, 1997, pág. 266).

A Exposição foi inaugurada no dia 14 de Setembro de 1978, às 20:30 horas, na Pinacoteca, até 15 de Outubro. Participou a Prefeitura da Cidade de São Paulo, mandando publicar luxuosa plaqueta (20x29), intitulada “A Cidade de Goiás e o Escultor goiano Veiga Valle”, com 60 páginas e Apresentação de Tito Livio Ferreira, Presidente da Academia Paulistana da História, e dois artigos, um de minha autoria sob o título “Cidade de Goiás: onde findou a grande era das Bandeiras Paulistas” e outro sob o título “Vida e obra do escultor Veiga Valle”, de autoria do escritor goiano Elder Camargo de Passos, Presidente da “Organização Vilaboense de Artes e Tradições”. O Governo do Estado de Goiás enviou as esculturas por meio do seu próprio avião, com foto tirada na partida, onde aparecem Elder Camargo de Passos, Antônio Santoro, Antolinda Borges e João do Couto, (em “Veiga Valle”, obra citada, pág. 146). A Ordem Nacional dos Bandeirantes e a Academia Paulistana da História enviaram previamente à Cidade de Goiás, fotógrafo que a documentou, sendo feito com essas fotos um painel no Recinto da Exposição e também distribuição à Imprensa, que deu grande cobertura ao evento, enquanto este durou. Constituiu pois, a Exposição, um êxito total.

SERAFIM LEITE S.J., o grande historiador português Jesuíta, autor da importante obra em doze volumes “História da Companhia de Jesus no Brasil”, em sua “Bibliografia” (Roma 1962) nos itens 80 (pág. 34) e 110 (pág. 39), cita o livro “O Mistério do Ouro dos Martírios” de Manoel Rodrigues Ferreira, por ter utilizado a carta-informação do Padre Antônio de Araújo S.J. que ele, Serafim Leite, descobriu nos arquivos da Companhia no Vaticano e publicou no livro “Páginas de História do Brasil” (Brasiliana, 1937), e que foi decisiva para a identificação do Rio Paraupava (antigo nome Bandeirante do hoje Rio Araguaia).

MARCOS SANTILLI, em seu grande álbum de fotografias coloridas “Madeira-Mamoré” (São Paulo, 1987), um valioso documentário do abandono a que foi relegada essa ferrovia após a sua desativação em 1972, entregou a “Apresentação” a Manoel Rodrigues Ferreira, que escreveu também algumas legendas de fotografias.

GERALDO MORAES. Há alguns anos, o cineasta Geraldo Moraes estava planejando realizar uma grande produção cinematográfica sobre Bandeirantes Paulistas, que seria redada no Estado do Tocantins. Procurou o maior conhecedor da região, o historiador Paulo Bertran, autor do livro já clássico “História da Terra e do Homem no Planalto Central”, para que lhe desse subsídios para a história do filme que iria rodar. Paulo Bertran respondeu a Geraldo Moraes:

— Procure em São Paulo o Manoel Rodrigues Ferreira, o descobridor dos Martírios, uma ex-lenda Bandeirante.

Por isso, imediatamente Geraldo Moraes procurou-me em casa, falou-me do seu Projeto, e na mesma hora eu presenteei-o com um exemplar d’O Mistério do Ouro dos Martírios, além dos dois opúsculos sobre a minha Bandeira em 1971 ao Rio Araguaia (ex-Paraupava) e sobre a qual publiquei no regresso dois opúsculos sob o título “Expedição aos Martírios”, mais um exemplar da revista “Manchete”, no qual o jornalista Celso Kinjô descrevia a Expedição com fotos coloridas, e encaminhei-o ao Prof. Marcos Santilli, Diretor do Museu da Imagem e do Som, ao qual eu doara todos os negativos fotográficos, cujos cópias ele obteve. Baseado nesse material, Geraldo Moraes criou uma estória de Bandeirantes e Sertanistas que vão á procura dos Martírios, e rodou o filme no Estado do Tocantins.

Em 1999, estava pronto e os jornais começaram a noticiar a sua próxima exibição sendo distribuído um folheto no qual Geraldo Moraes informou sobre o filme, que recebeu o título “No Coração dos Deuses”:

“A criação do argumento original, a pesquisa de documentos de época e de material iconográfico, os estudos sobre hábitos, figurino e o cenário do Brasil do Século XVIII originaram-se do trabalho feito pelo Professor Manoel Rodrigues Ferreira, que dedicou grande parte de sua vida ao estudo dos Bandeirantes e, após décadas de busca, localizou o famoso Sítio dos Martírios”.

Em 11/02/1999, os jornais “O ESTADO DE SÃO PAULO” e “JORNAL DA TARDE” de 11/02/1999, publicaram entrevistas de Geraldo Moraes, que disse:

“...inspirei-me na figura de Manoel Rodrigues Ferreira, outro historiador que mora em São Paulo, que dedicou a vida à redescoberta da Serra dos Martírios”.

A “FOLHA DE SÃO PAULO”, de 26/11/1999 publicou o seguinte sobre o “No Coração dos Deuses”:

“O projeto de Moraes lhe custou cinco anos, três deles em pesquisas. Baseou-se no pesquisador Manoel Rodrigues Ferreira, que buscou Martírios por anos, ao lado do Rio Araguaia, Tocantins”.

O filme “No Coração dos Deuses” foi lançado em São Paulo em 20/11/1999, escrito e dirigido por Geraldo Moraes, que no início fez a seguinte homenagens na tela:

“Eu ofereço este filme ao Sr. Manoel Rodrigues Ferreira que, como bom sonhador, encontrou os Martírios”.

O filme foi um sucesso absoluto no Brasil inteiro tendo sido estrelado pelo ator Antônio Fagundes

EUGÉNIO DOS SANTOS. Convidado pela Academia Paulistana da História para fazer a entrega aos laureados com o 25° Prêmio Clio de História, na solenidade do dia 09 de Outubro de 2002 no Terraço Itália, o Prof. Dr. Eugénio dos Santos impedido de comparecer, delegou ao Dr. Sérgio Augusto Pinto Martins poderes para representá-lo e que ficou também incumbido de entregar ao Presidente da Academia, carta com o timbre da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (Portugal) onde é Catedrático, a qual reproduzimos em seguida, na íntegra:

“Exmo. Senhor
Dr. Manoel Rodrigues Ferreira
Mui Digno Presidente Executivo da Academia Paulistana da História

Caro Amigo

Começo por solidarizar-me com o senhor pelo fatídico acontecimento que o afectou: a morte de sua esposa. É sempre um rude golpe e será bom saber, que seus amigos, mesmo a muita distância, procuram fornecer-lhe algum consolo moral.

Como tive oportunidade de referir ao meu compatriota, nosso gentil e comum amigo Dr. Sérgio Augusto Pinto Martins, é-me impossível, por razões profissionais e pessoais, participar na festa — convívio de distribuição do 25° Prêmio Clio de História a ter lugar no próximo dia 09 de Outubro.

Creia, senhor presidente, que seria uma subida honra essa convivialidade com os meus congêneres de São Paulo. Na verdade, é com grande orgulho que encontro nos ilustres acadêmicos dessa agremiação o sangue comum que nos corre nas veias e que, apesar das diferenças, aliás motivo de orgulho e de riqueza nacionais, fez destes dois povos, que bordejam ambas as margens do Atlântico, uma comunidade de língua, de cultura, de valores, de utopias, alicerçadas na acção discreta, mas abnegada, da esmagadora maioria de nossos antepassados. Conheço a vossa independência de pensamento e de acção, que muito aprecio, e que vos conduzem rumo à verdade documentada, mesmo arrostando com incompreensões, e, talvez, invejas mesquinhas. Nada escapará à pesquisa séria e permanente, a qual nos conduzirá a encontrar sempre o cimento e a compreensão da nossa identidade. Aprecio imenso o vosso desassombro de posições e sei que o que vos move é o amor da pátria, livre de partidarismo redutores e de ideologias de confronto. É óbvio que o nosso destino comum se começou a assumir através da acção do jovem D. Afonso Henrique, nos arredores de Guimarães, se foi disseminando, ao longo de séculos, nesse vastíssimo e fértil território brasílico continuou e haverá de continuar pelos tempos fora, onde quer que nos encontremos.

Na verdade, também páginas inolvidáveis da história brasileira começaram aqui, mesmo após a vossa independência. Quero lembrar apenas três figuras de presidentes do Brasil contemporâneo que herdaram a pujança e a galhardia do sangue português: Afonso Pena, Rodrigues Alves e Juscelino Kubitschek de Oliveira. Eles constituem parte do nosso patrimônio comum, que queremos transmitir intacto.

Quem sabe (e o documenta) que o pai de J.K. era oriundo do Norte de Portugal, de uma pequena cidade chamada Fafe, assim como os de Afonso de Pena? E Rodrigues Alves foi um grande amigo da terra de seus pais, Ponte do Lima, sem que isso o impedisse de amar entranhadamente e de vir a constituir-se um símbolo do seu Brasil em crescimento.

Muita pesquisa há a fazer e haverá toda a vantagem em que a Academia Paulistana se associe à nossa Academia Portuguesa de História, fundada no século XVIII (por D. João V) e dirigida pelo nosso colega, amigo e eminente historiador Joaquim Veríssimo Serrão. Assim a intelectualidade luso-brasileira reforçará seus laços e ambos sairemos ganhando. Ofereço-me para estabelecer uma ponte entre instituições tão prestigiadas.

Eis algumas razões que tornariam gratificante a minha ida a São Paulo, no próximo dia 09.

Contudo, o Dr. Sérgio Marins saberá representar, ao mais alto nível, os nossos sentimentos de solidariedade e gratidão.

Bem hajam todos. Parabéns pelo trabalho já executado.

Ao dispor


Eugénio dos Santos
(Professor Catedrático da Universidade do Porto)”.

 

SERAFIM LEITE S.J. Acima, eu já fizera uma referência ao ilustre historiador Português, da Companhia de Jesus, Serafim Leite, mas após encontrei no meu Arquivo uma carta que ele me escrevera em 05 de Agosto de 1961, pois havíamos nos tornado amigos pessoais durante as comemorações do 4° Centenário, em 1954 no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Antes de justificar este item, faço uma breve biografia do grande historiador.

Serafim Leite nasceu em São João da Madeira (Portugal) em 1890, vindo para o Amazonas com quinze anos de idade, tendo naufragado duas vezes. Em 1910 achava-se no Rio Negro. Quatro anos depois, entrou para a Companhia de Jesus, tornando-se sacerdote na Espanha, em 1926. Como historiador, teve à sua disposição o Arquivo da Companhia de Jesus no Vaticano, onde residia. Foi membro da Academia Portuguesa de História e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Faleceu em 1969.

Em 1961, a Editora Biblos, ao publicar o meu livro “Nas Selvas Amazônicas”, por minha solicitação enviou um exemplar a Serafim Leite, que me agradeceu em carta de 05/08/1961, de cujos termos faço uma explicação em seguida. Em meu livro “Nas Selvas Amazônicas refiro-me, na página 145, ao túmulo do jovem norte-americano J.R. Kennedy, que encontrei em novembro de 1959, no Cemitério de Candelária, onde eram enterrados os funcionários da construção da E.F. Madeira-Mamoré, no Hospital de Candelária, em Porto Velho. Relatei na pág. 145, que J.R. Kennedy falecera em 26/10/1910. Serafim Leite diz na sua carta, que nesse momento achava-se no Rio Negro (afluente do Amazonas), onde se deram aqueles dois naufrágios, ao que suponho. Ao escrever sua carta ele refere-se agora a um fato atual, isto é, nesse momento (Agosto de 1961), o Presidente dos Estados Unidos chamava-se J.F. Kennedy. Assim, ele refere-se a essas curiosas coincidências. Passo pois, em seguida a transcrever a carta de Serafim Leite, na íntegra.

Caro Amigo Eng°. Manoel Rodrigues Ferreira

Abri o pacote enviado pela Gráfica Biblos sem imaginar a bela surpresa de ver dentro dois livros seus. O meu coração levou-me logo para o da Amazônia; o pendor histórico fez-me começar a leitura pelo mais antigo, o do “grande segredo das bandeiras paulistas”. A transcrição nele dos dois roteiros de Antônio de Araújo já a anotei nos meus verbetes, com a advertência de que o primeiro constituiu a base da sua argumentação para situar os “Martírios” e “Paraupava”. Felicito-o por tão excelente trabalho de pesquisa.

Passei gratas horas de atenção e estudo “Nas selvas amazônicas”, que para mim é um grande livro. Não creio que dite este juízo apenas a nossa mútua correspondência de sentimentos. A sua pena corre com mais liberdade e segurança em contacto directo com aquela natureza sem igual no mundo. Alguma barraca, entre as muitas fotografias do livro, dir-se-ia a própria em que eu vivi no Rio Negro em 1910, ano em que um rapaz norte-americano, do actualíssimo apelido Kennedy, se sepultou às margens do Rio Madeira. Ele contava seis anos mais do que eu. As doenças endêmicas não variavam. Padeci-as como ele, e duas vezes, antes de saber nadar, se afundou a minha canoa. Porque não fiquei também no Rio Negro, desfeito pelas piranhas das suas águas, ou envolto numa rede, sepultado ao pé dalguma velha itaúba? Outros, com quem tratei, ficaram. Porquê eles e não eu? Perguntas de ressonância interior, mas que o seu livro avivou com mais aguda sensibilidade talvez do que quando se tem vinte anos e se correm perigos com o mesmo fervor juvenil com que se salta uma fogueira de S. João nos sítios de terra firme. Persuado-me de que, sem a Amazônia, não me teriam prendido tanto nem o Brasil nem sua história, nem mesmo estaria hoje a agradecer-lhe este livro que teve o condão de me transportar meio século atrás, a regiões e sucessos, que jamais esqueço, e revivo agora nas suas páginas com novo amor e saudade.

Ora, isto, que aqui lhe digo, na prática, é já um efeito estético da sua leitura. Outros autores li sobre a Amazônia, aparentemente mais literários, que não produziram igual efeito. Que é literatura? Verbalismo é que não é. Palavras difíceis também não comovem. O seu livro não dá mais importância às palavras do que às idéias, nem possui nada de altissonante, e arrasta o leitor. Porquê? Não será o seu, um livro de reportagem, que descreve e ensina? Sem dúvida, nem creio que tenha lido nunca outro sobre a Amazônia, escrito com a erudição e o equilíbrio do seu, e que ensinasse mais do que o seu. Então? Então é que “Nas selvas amazônicas” há objectividade sem devaneios retorcidos; e, na própria expressão das coisas comuns ou características daquele imenso espaço, aqui e além, rebrilham pérolas.

Despeço-me da sua boa companhia. Deixei-o, há anos, entretido com Nóbrega e Santo Agostinho. Agora, acho-o ainda com a herança de Nóbrega (ele viu que São Paulo era a porta dos sertões do Brasil), mas em vez de S. Agostinho, descubro o meu ilustre amigo em Paraupava e encontro-o na Amazônia, que foi a minha porta do Brasil... E isto ainda mais nos aproxima.

Com a viva admiração e amizade de


 

EM TEMPO... SEMPRE É TEMPO

Quando comecei a escrever esta Biobibliografia, pude colocar todos os assuntos em ordem cronológica, começando no ano 1915 e finalizando na página 28, com dois quadros: um sobre as minhas idéias sobre a criação dos Parques e outro sobre as minhas Denúncias. E tudo terminava aí. Mas enquanto o digitador Cleyton Domingues da Costa estava fazendo o serviço, fui para casa e passei a remexer nos meus guardados, que não obstante a sua desordem, chamo-o também de “arquivo”. E fui achando coisas que considerei que deveriam também ser incluídas, por isso levei-as ao digitador e isso aconteceu durante mais algumas vezes. Essa a razão porque a partir da página 28, já os assuntos não seguem uma ordem cromológica, isto é, acham-se na desordem como estão no meu “arquivo”. Mas, como esta minha Biobibliografia é mais um “piloto” de uma obra maior, tão completa como possível, eu que pensava ter terminado na página 28, achei mais alguns assuntos que nas nossas correspondências costumamos acrescentar com um “Em Tempo” o que significa a outra justificativa: “Sempre é Tempo”. Eis pois que espero terminar em seguida, Recomecemos pois.

“GRANDE ÊXITO DO CONGRESSO DE SERTANISMO”. No dia 03 de Junho de 1964 (quarta-feira), A GAZETA abria com esse título, matéria em quatro colunas relatando como decorrera na noite anterior (02/06), a abertura solene daquele certame. Nos meses anteriores, dediquei-me exaustivamente ao preparo desse Congresso de Sertanismo, fazendo-o dentro da Ordem Nacional dos Bandeirantes, cujo Presidente era o Prof. Dr. Tito Livio Ferreira, aliás também o fundador dessa entidade dois anos antes. Eu era somente o presidente Executivo do Congresso de Sertanismo. Não temos espaço aqui para dar os detalhes da preparação desse Congresso para o qual foram convidados todos os sertanistas do Brasil, tendo participado também um procedente de Angola e outro de Moçambique. A abertura solene foi um sucesso, com a mesa decorada com muitas flores, onde tomaram assento o Dr. Aureliano Leite, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulp (sede do Congresso), Tito Livio Ferreira, Presidente da Ordem, Américo Bologna vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo e membro da Comissão Executiva do Congresso. Estiveram presentes os sertanistas, entre os quais Francisco Brasileiro (Chico Brasileiro), Orlando e Cláudio Villas Boas, Willy Aureli, pessoas de relevo nos nossos meios sociais, tendo nessa sessão de abertura, o Presidente Executivo Manoel Rodrigues Ferreira feito uma palestra e apresentado o seu filme colorido “Aspectos do Alto Xingu”. Na notícia d’A GAZETA o repórter destacou a presença de público, informando: “Cerca de quinhentas pessoas lotaram literalmente o Auditório do Instituto, inclusive a parte superior (mezanino). Cerca de duzentas pessoas não puderam assistir à sessão por absoluta falta de espaço, tendo de retornar.” O congresso continuou até o fim do mês, com palestras de sertanistas, apresentação de teses escritas e filmes sobre diversas partes do Brasil.

JOTABÊ MEDEIROS, o jornalista, ajudou-me a ganhar o primeiro dinheiro, após 57 (cinqüenta e sete) anos de atividades somente gastando do meu bolso em benefício do meu Povo e do meu País. É o que passo a contar rapidamente, em seguida. Em página anterior, contei que o fotógrafo Ari André, d’A GAZETA deu-me grande quantidade de negativos da construção de uma ferrovia na Amazônia, que consegui identificar como sendo a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, o que me levou a pesquisar a sua história, e a escrever uma série de reportagens em 1957 e depois ampliando-a para constituir o meu livro “A Ferrovia do Diabo” publicado em 1961.

Mas, e as fotografias? Quem fora o magistral fotógrafo que fixara no vidro e no acetato aquelas cenas da Construção da Madeira-Mamoré, entre 1907 e 1912? Ninguém sabia. Procurei insistentemente, de todos os modos possíveis, descobrir o nome do extraordinário fotógrafo, mas nada! Até que o meu livro “A Ferrovia do Diabo” foi enviado aos Estados Unidos e entregue a um ex-funcionário da Companhia Norte-Americana que construira a Madeira-Mamoré, e que escrevera um livro, intitulado “The Jungle Route” (“A Estrada na Floresta”), e que gostara do meu: seu nome, Frank W. Kravigny, que me enviou um exemplar autografado, com data de 21 de Outubro de 1963. e no livro está o nome do fotógrafo da Madeira-Mamoré: DANA MERRILL, não só o nome, mas também a sua fotografia pessoal e muitas das que ele tirara.

Passei, pois, a citar o nome dele nas edições seguintes do “A Ferrovia do Diabo”, inclusive reproduzindo a sua própria foto. Durante mais de quarenta anos eu cuidara com todo o carinho daqueles negativos. Até que, certo dia, fui procurado pela Socióloga e com Mestrado pela Escola de Comunicação e Artes da USP, SILVIA MARIA DO ESPÍRITO SANTO e PEDRO RIBEIRO, Fotógrafo e com Doutorado em História Social pela USP. Eles propuseram-me de vender, a um Museu, os negativos do Dana Merrill. Concordei, eles obtiveram no Ministério da Cultura, o direito de negociar o material através da Lei Rouanet. Não obstante o MIS (Museu da Imagem e do Som) da Secretaria da Cultura do Estado se interessasse vivamente pela posse dos negativos, a direção da Secretaria negou-se a qualquer entendimento nesse sentido. Bancos, firmas industriais e comerciais também não se interessaram pelo assunto. Então Sílvia e Pedro foram ao Museu Paulista (ex-Museu do Ipiranga), dirigido pela USP, que aceitou receber o material, mas nenhuma firma quis fazer a doação. Foi então que Sílvia Maria dirigiu-se ao jornal O ESTADO DE S. PAULO, cujo jornalista interessou-se pelo caso, e na edição de 18 de Setembro de 1998, na seção “Cultura e Patrocínio”, JOTABÊ MEDEIROS assinou matéria de página quase inteira sob o título “USP tenta salvar memória de epopéia na selva”, ilustrando-a com sete fotos de Dana Merrill. No texto, o jornalista deu todas as informações sobre do que se tratava. No mesmo dia, de manhã, na sede do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), o seu Vice-Presidente JOSÉ PIO BORGES estava lendo o ESTADO, quando teve a atenção despertada pela matéria de Jotabê Medeiros, e imediatamente ligou para São Paulo, pôs-se em comunicação com Maria Sílvia do Espírito Santo e disse-lhe:

— O BNDES possui verbas para empregar nesses casos de preservar a memória do nosso País. Peço à Sra. que entre imediatamente em contato com o Museu Paulista e com o BNDES para efetivar a transação.

Alguns meses depois, o BNDES entregou um cheque de R$50.000,00, (cinqüenta mil reais) ao Museu Paulista, tendo eu recebido a minha parte, isto é, o primeiro dinheiro que recebi nos meus 57 (cinqüenta e sete) anos de atividades visando exclusivamente ser útil à minha Gente, ao meu País.

No dia 27 de Janeiro de 2000, o BNDES inaugurou em sua sede, no Rio de Janeiro, uma grande Exposição de Fotografias ampliadas de Dana Merrill, e distribuiu um valioso catálogo com o título “Trilhas e Sonhos — Ferrovia Madeira-Mamoré”, com 60 páginas ilustradas com as fotos do fotógrafo norte-americano e artigos por José Sebastião Witter (Diretor do Museu Paulista), Lara Borriero Milani e Regina Mara Teles, Sílvia Maria do Espírito Santo, Pedro Ribeiro, Solange Ferraz de Lima e Vânia Carneiro de Carvalho (historiadoras e curadoras do Museu Paulista), estas organizadoras do referido catálogo e também da Exposição. O BNDES fez-me um convite especial para comparecer à Exposição enviando-me passagens de avião (ida e volta) e estada em Hotel de Copacabana. A Exposição foi um grande sucesso, tendo a imprensa do Rio e São Paulo registrado o fato com grandes matérias. Meses depois, a Exposição foi repetida em São Paulo, com o mesmo êxito havido no Rio.

OS JUDEUS. Nunca tive preconceito contra qualquer nacionalidade, povo, raça, tribo; enfim, todos, para mim, sempre foram seres humanos. Aliás, sempre tive bons amigos judeus, por exemplo. Quer no Curso Secundário, quer no Superior, e mesmo quando era Professor de Matemática, Física e Desenho Geométrico ou na minha Profissão de Engenheiro. Sempre que se me ofereceu a oportunidade, escrevi artigos ou enviando cartas ao “Jornal da Tarde” nos momentos rumorosos em que os nazistas no pós-2a, Guerra eram procurados na Argentina ou no Brasil pelos crimes cometidos contra os judeus. Passo mesmo a citar um episódio do qual muito me vanglorio.

Em Junho de 1999, em conversa com o cidadão português Antônio Manuel Neto Guerreiro, advogado e escritor e também membro das nossas entidades Academia Paulistana da História e Ordem Nacional dos Bandeirantes, ele falou-me de um seu concidadão que durante a 2a, Guerra, Cônsul de Portugal em Bordéus (França), fora punido pelo Ditador Salazar por ter ajudado os judeus que eram perseguidos por Hitler na Alemanha e França, tendo perdido esse emprego e ficado na miséria extrema. Eu não conhecia essa história, por isso solicitei-lhe que a escrevesse para ser publicada em um dos dois boletins “CLIO” e “BANDEIRANTE” dos quais era eu o Presidente. Ele escreveu-o e foi publicado no “Bandeirante” de Agosto de 1999 (Ano XVII — N° 112), com a sua assinatura: NETO GUERREIRO. O artigo, sob o título “Uma Missão Diplomática Para Guardar Memória”, ocupando 4 páginas das 6 que o nosso periódico tinha. O escritor Neto Guerreiro relatou toda a desgraça em que caíra o Cônsul perante Salazar por ter fornecido passaportes portugueses aos refugiados judeus, que somaram cerca de 30.000. No artigo, Neto Guerreiro também relata como, após o término da 2a, Guerra, a Memória desse grande Português, ARISTIDES SOUSA MENDES, recebera homenagens especiais: Israel, Estados Unidos, Portugal, França, Inglaterra e outros Países.

Publicado o artigo de Neto Guerreiro verifiquei que o grande, digno e ilustre Cônsul Aristides de Sousa Mendes ainda não fora homenageado no Brasil, e passei à procura de uma maneira de o fazer. Um ano depois, após verificar as possibilidades de fazer essa homenagem, resolvi dirigir-me ao Prefeito da Cidade de São Paulo, CELSO PITTA, solicitando-lhe que desse a um logradouro público o nome de ARISTIDES SOUSA MENDES. Usando o papel timbrado da Academia Paulistana da História e da Ordem Nacional dos Bandeirantes, redigi um ofício ao Prefeito, com data de 17 de Novembro de 2000, assinado por mim, Presidente da Academia e por João Couto, então Presidente da Ordem, e pelo secretário de ambas, Juvenal Fernandes. O ofício solicitava que fosse dado o nome de Aristides Sousa Mendes a um logradouro público da Capital de São Paulo, justificando a solicitação com uma curta biografia do homenageado, que afirmávamos, era “um grande Cidadão do Mundo”. Também juntamos a biografia de Aristides Souza Mendes, de autoria de Neto Guerreiro, publicada no “Bandeirante” de Agosto de 1999. O referido ofício foi levado diretamente ao Gabinete do Prefeito, pela Diretora Social da Academia e da Ordem, Lia Sciascia. No dia 27 de Novembro de 2000 o Prefeito Celso Pitta despachou o oficio ao Setor Competente da Prefeitura, para cumprir.

No dia 08 de Dezembro de 2000, o Prefeito CELSO PITTA assinou o decreto n° 40.134, denominando “PRAÇA ARISTIDES SOUSA MENDES”, a um logradouro, que se acha especificado de acordo com as posturas municipais. E imediatamente, o prefeito Celso Pitta encaminhou ofício á Diretora Social, Lia Sciascia, no qual diz:

“Tenho o prazer de comunicar-lhe que, atendendo pedido da Academia Paulistana da História e da Ordem Nacional dos Bandeirantes formulado por seus Presidentes, editei o Decreto n° 40.134 de 8 de Dezembro de 2000, que denomina Praça Aristides Sousa Mendes (...). Como Prefeito do Município de São Paulo orgulho-me de ter conferido a denominação solicitada a um logradouro público, posto que o homenageado, Cônsul de Portugal em Bordéus, revelou-se um bravo, reconhecido internacionalmente por sua atuação durante o período do Holocausto. Cidadão cuja memória é reverenciada em todo o mundo, coube-me a honra de homenageá-lo nesta Cidade, conferindo seu nome e uma praça pública, no intuito de perpetuar a sua memória”. Força feita pois, Justiça

A INJUSTIÇA

No dia 22 de Abril de 2002, isto é, um ano, quatro meses e meio após o Decreto do Prefeito Celso Pitta, “O ESTADO DE S. PAULO” publicou na página A-11, matéria assinada pela jornalista Gabriella Dorlhiac, intitulada: “O ‘Schindler português’ salvou 30 mil”, na qual informou:

“Amanhã, 23 de Abril, mês da morte do cônsul, as comunidades judaica e portuguesa no Brasil vão homenagear pela primeira vez no País um herói pouco conhecido da 2° Guerra. Em uma cerimônia no clube A Hebraica, será inaugurado um busto de Mendes e uma exposição com imagens e documentos que contam a história do Cônsul. ‘É sempre bom relembrar fatos como esse porque mostram que o ser humano ainda é capaz de atos bons’, diz Hélio Bobrow, presidente da Hebraica. Antônio Almeida e Silva, vice-presidente do Conselho da Comunidade Luso-Brasileira em São Paulo, encara a homenagem como uma maneira de reparar essa grande omissão: ‘A história não foi justa com Mendes. Oskar Schindler (empresário alemão que salvou cerca de 1.200 judeus) ficou conhecido depois do filme de Stephen Spielberg. Esta homenagem será uma ótima oportunidade para se conhecer a figura maiúscula de Aristides Sousa Mendes’”.

Contrariamente ao que disseram os dois presidentes, essa homenagem não é a primeira realizada no Brasil, pois o nome de Aristides Sousa Mendes já figura numa Praça Pública em São Paulo, graças à Academia Paulistana da História e à Ordem Nacional dos Bandeirantes, que a solicitaram ao Prefeito Celso Pitta, que as atendeu. Houve aí, pois, uma injustiça ao se repetir a mesma justiça já antes feita.

O documentário sobre a BR-29, Rodovia Porto Velho-Cuiabá, sobre a qual já falei em item anterior, isto é, os 438 negativos fotográficos que separei dos mais de 500 que fiz durante minha jornada pelo Território de Rondônia em Novembro-Dezembro de 1959 e com os quais ilustrei as 21 reportagens que influenciaram o Presidente Juscelino Kubitschek a determinar a imediata construção dessa Estrada de Rodagem na noite de 05/02/1960, mais os da Derrubada da última árvore em vilhena, no dia 04/07/1960, sempre os conservei em perfeitas condições. Agora, a Socióloga Sílvia Maria do Espírito Santo, que antes conseguira vender para o BNDES a coleção do fotógrafo Dana Merrill, que era de minha propriedade, agora propôs-se a vender aquele Documentário por mim realizado em Rondônia e Vilhena, já visto. Pela primeira vez na minha vida eu me dispuz a vender algo realizado por mim. Sempre fiz doações de tudo isso que realizei, principalmente para o Museu da Imagem e do Som da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo. Além do mais esse Documentário tem valor duplamente histórico: 1°) Por fixar um momento da região amazônica há 44 anos; 2°) por ter eu conseguido com ele a construção da BR-29 Rodovia Porto Velho-Cuiabá, no caso de São Paulo, abrindo para o nosso Estado um vasto mercado que surgia com essa Estrada que cortava ao meio o Terrritório Federal de Rondônia, abrindo-o à colonização, com estradas viciais que possibilitaram a formação de propriedades agrícolas, de indústrias, de vilas e cidades. Em 1959, o território de Rondônia estava dividido em dois municípios; hoje conta com 52, e possui o 10° rebanho bovino brasileiro, com 5,2 milhões de cabeças. É a Rodovia Rio Branco (capital do Estado do Acre)-Porto Velho-Cuiabá-São Paulo a primeira pavimentada e em breve chegará ao Peru, nos portos do Pacífico. É fácil adivinhar o que essa Região Amazônica significa para as forças vivas de São Paulo (indústria, comércio, sistema financeiro, etc); quando eu me propus a conseguir esse hoje imenso mercado para São Paulo, não cobrei um tostão de ninguém, bem ao contrário, gastei o meu dinheiro somente nessa aventura. E é também o Governo do Estado de São Paulo outro grande beneficiário, ao cobrar impostos dessas atividades. Se hoje ofereço ao meu Estado todo esse valioso Documentário não estou cobrando pelo serviço prestado ao meu Estado, simplesmente estou vendendo um material do maior valor histórico que lembra um momento em que essa próspera e vasta região amazônica foi incorporada a São Paulo, graças ao meu trabalho patriótico pelo qual nunca cobrei nada e nem estou cobrando hoje. Aliás, a própria Sílvia Maria do Espírito Santo já conseguiu para esse material o reconhecimento do Ministério da Cultura, ao conceder-lhe os benefícios da lei Rouanet. É oportuno transcrever o final do artigo publicado no “CLIO” de Março de 2002, sob o título “Em 1960: a primeira rodovia a penetrar na Amazônia”, de Haldumont Nobre Ferraz, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba (SP):

“Para finalizar esta matéria, não posso deixar de fazer a necessária comparação: em 1648-1651, o Bandeirante Antônio Raposo Tavares, saiu de São Paulo, subiu o Rio Paraguai ganhou o Rio Guaporé, o Rio Madeira, saiu no Amazonas, em Belém do Pará. Com o seu Périplo, ele incorporou toda a região ao Brasil, politicamente. Em 1959-1960, isto é, 312 (trezentos e doze) anos depois, o último Bandeirante, Manoel Rodrigues Ferreira vai à mesma região, e ao conseguir a construção de uma estrada de rodagem, a Porto Velho-Cuiabá, agora incorpora a região fisicamente, ao Brasil”.

AS NOSSAS REVOLUÇÕES constituem bem um capítulo da nossa história e podemos, a grosso modo, considerá-las na República: a Semana da Arte Moderna de 1922, que era uma Revolução exclusivamente no campo das Artes Plásticas, mas que muitos não a entenderam dentro dessa limitação e passaram a investir contra o Passado no campo da Literatura e da História, e nessa época não se tinha uma idéia precisa de ser “a História a Ciência do Documento”. Concebia-se a História como parte da Cultura Literária, daí os arroubos literários de certos “historiadores” que encantavam os seus leitores. Esses excessos despertaram a atenção do historiador Tito Livio Ferreira que iniciou em 1° de Junho de 1952, uma série de artigos no vespertino A GAZETA e cujo objetivo era desmitificar a História, fazendo-lhe a Revisão, para tanto usando somente Documentos do Passado. Assim, por exemplo, provou que o Padre Anchieta não fora o Fundador da Cidade de São Paulo e se alguém merecesse esse título seria o Provincial Padre Manoel de Nóbrega. Anos depois, ele lança outra polêmica no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo: “O Brasil não fora Colônia de Portugal, mas sim, um Estado da Coroa Portuguesa, que fora o seu verdadeiro título, segundo a Documentação Histórica”.

Quanto a mim, fiquei no campo das Vilas e Cidades. Assim, acabei provando só com Documentos, que não existiram “municípios” no Brasil, desde 1532 até 1822. As Vilas e Cidades organizavam-se política e administrativamente com a denominação de “repúblicas”, e eram-no na realidade. O “município” só foi adotado no Brasil, com a Constituição de D. Pedro I em 1824, substituindo as “repúblicas” locais. A minha segunda Revolução foi a que consistiu em provar que os “Martírios” não eram uma lenda, um mito inventado por Bandeirantes, pois existira verdadeiramente, mas era necessário primeiramente descobrir qual fora o Rio Paraupava dos Bandeirantes de São Paulo e eu provei utilizando só documentos, que Paraupava fora o nome que os primeiros Bandeirantes deram ao hoje Rio Araguaia. E a esse primeiro tempo das primeiras Bandeiras, de 1590 a 1618, dei o nome de “Ciclo Paraupava“. E provei também que os Martírios ficaram no hoje Baixo Rio Araguaia, aonde fui em 1971 e realizei diversos documentários.

Mas, onde nascia o Rio Paraupava? Provei também que o Rio Paraupava nascia na célebre Lagoa Paraupava. Mas esse assunto deixo para dissertá-lo no item seguinte, “A Lagoa Dourada”.

“A LAGOA DOURADA” foi o título que dei ao livro que terminei em 1994, e da qual Lagoa já fiz referência em um dos itens anteriores. A pergunta que me pode ser feita é:

— Já passados nove anos, por quê “A Lagoa Dourada” ainda não foi publicado?

Passo a explicar porque o “A Lagoa Dourada” as editoras ainda não o publicaram. As empresas que editam livros, possuem “comissões” de especialistas encarregados de ler e opinar sobre os originais que os autores lhes encaminham para publicação. Ora, um desses “especialistas” deve saber tanto como o autor do livro ou mesmo até mais. Se o autor de um livro apresenta-o como resultado de uma pesquisa à qual o “especialista” não conhece, ele então veta-o, o seu veredito é: “não deve ser publicado”. O editor acolhe o seu parecer, sem dar ao autor as razões da recusa. Há também o caso do “especialista” ser o que se chama de “autoridade” e estar incompatibilizado com o autor por questões alheias ao valor da obra, mas ligadas a divergências até de natureza ideológico-políticas etc., que nada tem a ver com a publicação propriamente dita.

O meu “A Lagoa Dourada” é pois uma obra que tem tudo para ser recusado por tais “autoridades”, desde que se trata, antes de mais nada, de um assunto novo no campo da historiografia, completamente desconhecido pelas “autoridades” que, para aprová-lo ou desaprová-lo, não teriam a quem recorrer, pois ninguém tratou dessa matéria até hoje. Por isso e por outros motivos o melhor é, para tais “especialistas” em História, recomendar ao editor: “não publicar”.

Mas, de que se trata no livro “A Lagoa Dourada”? No item já visto, fiz uma rápida digressão sobre o assunto, mas ainda falta fazer uma rápida informação, que consiste em criticar aqueles que, no nosso Passado, só vêem razões para humilhar os nossos antepassados pelas suas maneiras de ser, seus modos de vida, suas concepções do mundo, como é o caso da maneira com que procuram na “Ordenação do Reino”, ridicularizar as penalidades a que estavam sujeitos os transgressores das leis e costumes de então, isto é, de trezentos, quatrocentos, quinhentos anos atrás.

Feita essa breve introdução, passo ao que é fundamental no meu “A Lagoa Dourada”. Os portugueses e espanhóis que primeiro chegaram à hoje América do Sul, isto é, imediatamente aos litorais, em contato com os indígenas, que lhes informavam sobre o Interior da Terra, que ninguém ainda conhecia, que nessas longínquas paragens, existia uma grande e rica Lagoa, onde nasciam principalmente os grandes rios: Paraguai, São Francisco e Paraupava (hoje Rio Araguaia). Vou, em seguida, apresentar um testemunho da época, um historiador que, no momento em que publicou seu livro em Portugal (1576), os Sertanistas e Bandeirantes de São Paulo, ainda não haviam iniciado sua penetração em direção ao Interior do Brasil (1590). Portanto, esse historiador nascido em Portugal mas que viveu na Bahia, PERO DE MAGALHÃES GÂNDAVO, que conviveu com índios, escreveu a sua “História da Província de Santa Cruz”, da qual em seguida só destaco alguns trechos:

“Este rio (São Francisco) procede de um LAGO muito grande que está no íntimo (interior) da terra (...) há outros muitos índios na terra (...) posto que são gente de pouca fé e verdade, dá-se-lhes crédito nesta parte, porque acerca disto os mais deles são contestes (concordam), e falam em diversas partes por uma (só) boca. Principalmente é publica fama (afirmativa), entre eles, que há uma LAGOA muito grande no interior da terra, donde procede o Rio São Francisco...”.

Esse cronista-historiador, Pero de Magalhães Gândavo, ao escrever essas palavras em 1576 — 14 anos antes do início do CICLO PAPAUPAVA em 1590 — é uma prova de que os povoadores portugueses (e também espanhóis) que vinham para a hoje América do Sul, acreditavam piamente no que lhes diziam os naturais da terra, isto é, os índios: havia no Interior uma grande Lagoa, onde nasciam os grandes rios que iam desaguar no Litoral.

Muito bem: esses primeiros povoadores levaram para os Cartógrafos em Portugal e na Espanha essa informação, que eram colocadas nos mapas da América Meridional. Durante todo o Século 16 (1500-1600), na Europa foram feitos mais de 100 (cem) desses Mapas mostrando a célebre Lagoa com as seguintes denominações: Lagoa do Ouro, Lagoa Dourada, Eupana Lacus (corruptela de Lagoa Paraupava), e no Brasil era conhecida por Lagoa Paraupava (em São Paulo) e Lagoa Vupabussú (na Bahia).

Para eliminar essa Lagoa dos referidos Mapas, seria necessário que alguém fosse ao Interior do Brasil e verificasse que ela era mito, não existia. Assim, para fazer tal verificação os Sertanistas de São Paulo (que ainda não tinham o nome de “paulistas”), também eram Bandeirantes, em 1590, com a Bandeira de Domingos Luís Grou-Antônio de Macedo foram-lhe à procura, iniciando-se assim o CICLO PARAUPAVA, que durou até 1618. Verificaram que a Lagoa não existia, tornando-se assim os primeiros Geógrafos Cientistas da América Portuguesa, eliminando dos mapas a célebre Lagoa e ainda fornecendo, aos Cartógrafos em Portugal, outros elementos geográficos que começaram a enriquecer os conhecimentos do Interior do Brasil.

Entretanto, o mito da célebre Lagoa, com o nome genérico de Lagoa Dourada continuou através dos Séculos e hoje continua bem vivo em muitos lugares do Brasil, como em Iguape (SP), Ilha do Cardoso (SP), Vila Velha (PR), Minas Gerais, Rio de Janeiro, Piauí, etc.

Nos outros países da América do Sul, como Colômbia, Peru, Chile, Paraguai, etc, o mito continua ainda vivo, mas com outros nomes, conforme mostro em meu livro “A Lagoa Dourada”.

Em conclusão: a maioria das pessoas que observa um daqueles mapas antigos com a Lagoa, faz um juízo depreciativo da gente daquele tempo, dizendo que eram ignorantes, por terem “inventado” a tal Lagoa. Nesse meu livro provo que os nossos maiores não inventaram a Lagoa, os que a inventaram foram os indígenas, que a transmitiram a portugueses e espanhóis. E por que os índios de toda a hoje América do Sul inventaram esse mito da Lagoa? Isso também descobri e conto nesse meu livro.

Expliquei, pois, porque os consultores culturais das editoras não recomendam esse meu livro: até hoje fui e ainda sou o único que descobriu na Documentação essa extraordinária História da Lagoa Dourada. E ninguém quer, também, dar-me esse título de descobridor dessa História que mostra como o Interior da América foi revelado e conquistado, passando a figurar nos Mapas.

Se as editoras não querem editar o “A Lagoa Dourada”, terei que penhorar os meus próximos vencimentos de engenheiro para publicá-lo. Aliás não sou o primeiro, pois antes de mim há exatos 100 anos, um ilustre colega engenheiro, foi obrigado a esse mesmo sacrifício, ao publicar o seu “Os Sertões” que ninguém queria: EUCLIDES RODRIGUES PIMENTA DA CUNHA.


 

O 2“ DESCOBRIMENTO DO BRASIL: O INTERIOR, PELOS BANDEIRANTES DE S. PAULO

Com os Descobrimentos, os indígenas da América do Sul informavam aos portugueses e espanhóis que no Interior havia uma grande e riquíssima Lagoa; esses povoadores logo começaram a procurá-la. No Brasil a Lagoa recebia diversos nomes: Lagoa Paraupava em S. Paulo; Lagoa Vupabuçu, Grande e Dourada nas capitanias do Nordeste; e Eupana Lacus nos mapas europeus, incluindo os portugueses. Os índios informavam aos portugueses que os rios Paraguai, São Francisco e Paraupava (hoje Rio Araguaia) nasciam na célebre Lagoa. Por isso, os cartógrafos portugueses e europeus em geral, faziam o mapa do Brasil e também da América do sul, dessa maneira, como mostramos ao lado.

Para ir à riquíssima Lagoa, bastava partir das fozes desses rios, pois subindo-os se chegaria às suas nascentes. O rio inicialmente escolhido por portugueses e espanhóis foi o Rio da Prata, pois por ele ganhava-se o Rio Paraguai. Martim Afonso de Sousa em 1530 veio com grande expedição, com esse objetivo. Tentou chegar ao Rio Paraguai através do Rio Prata e por terra, mas sem sucesso. Então subiu ao planalto e com João Ramalho verificou que o Rio Anhembi (hoje Rio Tietê) seguia exatamente em direção Noroeste, isto é, em rumo à Lagoa Paraupava. Fundou por isso, a Vila de Piratininga, junto ao Rio Piratininga (hoje Rio Tamanduateí), próxima à confluência desse com o Anhembi.

Martim Afonso de Sousa fundou a Vila de Piratininga para que ela fosse uma Escola de Sertanismo, imprimindo-lhe a idéia-força deque à sua gente e às futuras gerações caberia varar os sertões à procura da Lagoa Paraupava. Em 1553 com a fundação do Colégio de Piratininga na Vila de Piratininga pelo Padre Manoel da Nóbrega, a Vila adotou São Paulo como padroeiro e passou a chamar-se Vila de São Paulo de Piratininga (hoje a cidade de São Paulo). Os seus bandeirantes exploraram e dominaram todo o território ao redor da Vila, expandindo-o para o Sul (área riscada no mapa ao lado). Em 1590 a Bandeira de Grou-Macedo inicia a grande penetração do desconhecido Interior do Brasil.

A Bandeira de Grou-Macedo durante quatro anos ficou perdida no Sertão do Paraupava. Seguiram a ela, mais de dez Bandeiras até 1618, constituindo o “Ciclo Paraupava”. Durante 28 anos essas Bandeiras devassaram, exploraram todo o grande Sertão do Paraupava. E chegaram à conclusão: a Lagoa Paraupava (Vupabuçu, Grande, Eupana e Dourada) não existia. Tratava-se de um mito indígena. Os rios Paraguai, São Francisco e Paraupava (hoje Rio Araguaia) não nasciam em nenhuma lagoa, tendo suas nascentes independentes entre si. Deixaram os sertanistas do “Ciclo Paraupava” roteiros escritos para todas as Bandeiras que se seguiram. Mas o mito continuaria como Lagoa Dourada, até hoje.

Os Bandeirantes do “Ciclo Paraupava” (1590-1618) foram os primeiros e grandes geógrafos do Interior do Brasil, fornecendo aos cartógrafos em Portugal os elementos para os primeiros mapas científicos, que começaram a aparecer a partir de 1627. Outros cartógrafos ainda continuavam a elaborar mapas do Brasil com a Lagoa Paraupava, como fez Antônio Sanches em 1633. mas esse mesmo Antônio Sanches, em 1641 fez o primeiro mapa científico e artisticamente belo do Interior do Brasil. E nele pôs a marca dos bandeirantes de São Paulo, dando ao hoje Rio Araguaia até Belém do Pará, a denominação Rio Paraupava. E a hoje Ilha do Bananal teria nos mapas seguintes o nome de Ilha Paraupava.

Os bandeirantes do “Ciclo Paraupava” verificaram que não existia a Lagoa Paraupava. Mas não fizeram o mesmo com a nascente do Rio Paraguai. Por isso, os mapas europeus continuavam mostrando que o Rio Paraguai nascia na Lagoa agora Xaraies. Em 1648 o bandeirante Antônio Raposo Tavares vai à procura da nascente do Rio Paraguai e verifica que a Lagoa Xaraies também não existia. Raposo Tavares desceu os rios Guaporé, Madeira e Amazonas chegando a Belém do Pará em 1651. A Lagoa desapareceu dos mapas mas o mito continua até hoje: Lagoa Dourada.

A ONG DA HISTÓRIA DO BRASIL. Durante as festividades da Comemoração do 500° Aniversário do Descobrimento do Brasil, fiquei tão chocado com os violentos ataques à nossa História, ao nosso Povo na História, que cheguei à conclusão de que algo estava errado neste País e que seria necessária uma ação no sentido de se esclarecer a opinião pública sobre o verdadeiro sentido da História: a procura da Verdade sobre o nosso Passado, a Verdade sobre os nossos Antepassados e isso só se consegue por meio dos Documentos que eles nos Legaram. Essa a única maneira de se silenciar os demagogos que falsificam a Verdade para surgirem como os arautos de uma luta contra os mortos, pois estes não podem mais se defender. Evidentemente que essa ação não cabe só aos Governos, aos Representantes do Povo nos Executivos e Legislativos, mas cabe também a todas as associações que visam a uma sociedade mais justa e esclarecida, isto é, responsável perante a comunidade.

Foi pois, com esse pensamento que convoquei as Diretorias da Academia Paulistana da História e da Ordem Nacional dos Bandeirantes, com a finalidade de ambas assumirem também a sua condição de auxiliares dos Governos naquela tarefa, e mesmo assumir uma posição contrária a eles, se necessário fosse. Surgia assim a ONG DA HISTÓRIA, mais precisamente, a ORGANIZAÇÃO NÃO GOVERNAMENTAL DA HISTÓRIA DO BRASIL DOCUMENTADA. Redigi o Manifesto criando-a, invocando os primeiros artigos das duas entidades, isto é, as suas finalidades e objetivos e, em seguida, apresentando a maneira prática de os executar. As duas Diretorias aprovaram sem restrições a minha Proposta, que foi tornada pública, para que todos os associados dela tomassem conhecimento, o que foi feito no periódico “BANDEIRANTE” de Outubro de 2000, Ano XVII-N° 119. aprovada por todos. Deixo de reproduzir, aqui, sua Primeira Parte, já retro exposta. Passo, pois, a transcrever a sua Segunda Parte:

“CONSIDERANDO que os dois Estatutos conferem às duas entidades a condição de defensoras do nosso PASSADO HUMANO, cuja VERDADE sobre sua existência nossos antepassados legaram-nos com seus DOCUMENTOS, mas que escritores facciosos deformaram, com o objetivo de formar personalidades dominadas pelo ÓDIO aos nossos antepassados, em suma, ódio a nós mesmos, hoje. Daí que tal atitude vem resultando numa ação devastadora na ALMA, no ESPÍRITO do POVO BRASILEIRO, criando-lhe um estado MENTAL de total DESCRENÇA nos valores herdados dos nossos antepassados, destruindo-lhe a AUTO-ESTIMA e incutindo-lhe um sentimento de DESVENTURA e a consciência de ser desmerecedor do respeito de toda a HUMANIDADE”.

Não se confunda, pois, LIBERDADE DE EXPRESSÃO, com a exigência da submissão do historiador aos textos dos DOCUMENTOS HISTÓRICOS, únicas fontes do CONHECIMENTO DA VERDADE.

CONSIDERANDO pois que, as finalidades dos Estatutos das nossas duas entidades culturais e cívico-culturais, que há quase quarenta anos vêm conferindo-lhes a condição de autênticas organizações desvinculadas dos Poderes Públicos,

RESOLVEM

1°) Torná-las uma ORGANIZAÇÃO NÃO GOVERNAMENTAL (ONG) DA HISTÓRIA DO BRASIL DOCUMENTADA, estabelecendo-as assim, como um Instrumento Jurídico apto a promover a responsabilidade dos Poderes LEGISLATIVOS e EXECUTIVOS da República, dos Estados e Municípios, da administração direta e indireta, inclusive das entidades controladas por eles, e também das particulares que já receberam ou venham receber favores pecuniárias fiscais ou de outra natureza que signifiquem benefícios com os dinheiros públicos. Pois não se justifica, que os dois Poderes Públicos, que recebem do POVO impostos para prestarem-lhe serviços, devolvam-lhe os dinheiros arrecadados sob a forma de uma HISTÓRIA falsa, uma HISTÓRIA mentirosa, enfim, DOCUMENTOS HISTÓRICOS falsificados, como se constituíssem a VERDADE sobre o nosso PASSADO HUMANO. Em conclusão: os dinheiros do POVO não podem serem-lhe devolvidos como moeda falsa.

MEIO AMBIENTE E MENTE SÃ

Hoje, há uma preocupação com cuidar do MEIO AMBIENTE, com a finalidade de preservar a NATUREZA, em suma: com o objetivo de preservar a SAÚDE ORGÂNICA do Ser Humano, isto é, a sua constituição íntima e fundamental, biológica em suma.

Mas quanto à sua SAÚDE MENTAL, que se tem feito para preservá-la? Nada. Eis pois que a sua MENTE, a sua faculdade de conhecer a VERDADE, de receber o conhecimento do PASSADO HUMANO através dos DOCUMENTOS deixados pelos NOSSOS ANTEPASSADOS, são-lhe negados pelos demagogos da cultura, que abusivamente usam o poder da inteligência do HOMEM BRASILEIRO para inculcar-lhe uma FALSA HISTÓRIA do nosso passado, onde os NOSSOS ANTEPASSADOS são apresentados da pior maneira possível, abaixo das categorias que definem o SER HUMANO. Esse anti-patriótico trabalho, que há muito vem destruindo o PODER INTELECTUAL DO POVO, sua ALMA, seu ESPÍRITO, ficou perfeitamente claro nas comemorações dos 500° ANO DO DESCOBRIMENTO, quando escrevinhadores formados nessa Escola de Destruir o Homem do Passado, lançaram-se na miserável empreitada de ferir hoje, o nosso POVO no que ele tem de DIGNIDADE, de AMOR PRÓPRIO. E tudo isso foi também visto nos acontecimentos havidos em Porto Seguro, perante a comunidade internacional.

ESTÁ, POIS, CRIADA A
ONG DA HISTÓRIA DO BRASIL DOCUMENTADA

Pela
ACADEMIA PAULISTANA DA
HISTÓRIA
MANOEL RODRIGUES FERREIRA
Presidente
JUVENAL FERNANDES
Secretário

Pela
ORDEM NACIONAL DOS
BANDEIRANTES
HALDUMONT NOBRE FERRAZ
Presidente
JUVENAL FERNANDES
Secretário

 


 

HOMENAGENS QUE ME FORAM TRIBUTADAS

NO ESTADO DE GOIÁS

ARAGARÇAS: Nessa cidade, a Professora, Historiadora e Escritora ZÉLIA DOS SANTOS DINIZ promoveu grandes homenagens a mim, reinaugurando a placa de bronze que, em 1945, a “Bandeira Mackenzie”, que chefiei, colocou-a no Cruzeiro da Fundação da Cidade, como também homenageado na Universidade de Barra do Garça (MT), onde fiz palestras. Também ZÉLIA DOS SANTOS DINIZ deu, à Biblioteca por ela fundada, o nome de “Manoel Rodrigues Ferreira”, inaugurada solenemente.

CIDADE DE GOIÁS: Por iniciativa do historiador e escritor ELDER CAMARGO DE PASSOS, Presidente da Organização Vilaboense de Artes e Tradições, a Câmara Municipal da Cidade de Goiás (GO), concedeu-me título de “Cidadão Vilaboense”, “o resgate de uma dívida de reconhecimento e gratidão de Vila Boa”. No Museu das Bandeiras, um grande painel na entrada faz referência aos Descobrimentos que realizei sobre o início da penetração Bandeirista, o “Ciclo Paraupava” (1590-1618).

GOIÂNIA: Distinguiu-me a Universidade Católica de Goiás, em Goiânia, com o Prêmio Karajá, uma estatueta em bronze num pedestal de granito polido onde se lê:

“Ao Exmo. Prof.
Dr. Manoel Rodrigues Ferreira
Uma homenagem da Universidade Católica de Goiás pelo reconhecimento da relevante pesquisa e obra histórica consagrada ao Brasil”.

NO ESTADO DE MATO GROSSO

BARRA DO GARÇAS: além das homenagens recebidas na Universidade, também o historiador e escritor VALDON VARJÃO distingiu-me com uma menção especial no Museu que dirige.

NOVA XAVANTINA: Considerando “Sócio Benemérito” pela “Associação dos Pioneiros da Marcha Para o Oeste”, “pelos relevantes serviços no desbravamento e colonização do Brasil Central, tendo contribuído e muito, para o Progresso Político, Social e Econômico da Região Centro Oeste bem como ter escrito as mais belas páginas da História do Brasil Central e levado o nome de Nova Xavantina muito além...”.

CUIABÁ: Na Capital do Estado, o Prof. Dr. BENEDITO PEDRO DORILEO, primeiro Reitor da Universidade Federal do Mato Grosso, escolheu Manoel Rodrigues Ferreira como Patrono da sua Cadeira no Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso.

NO ESTADO DE RONDÔNIA

PORTO VELHO: Fui distinguido pelo Governo do Estado de Rondônia, com a sua Láurea Máxima, a Ordem do Marechal Rondon.

A Assembléia Legislativa do Estado, concedeu-me o título de “Cidadão Rondoniense”.

GUAJARÁ MIRIM: a Câmara Municipal dessa Cidade, concedeu-me o título de “Cidadão Guajaraense”.

EM PORTUGAL

LISBOA: A Assembléia da República distingiu-me com a Medalha da Assembléia de Portugal.

NO ESTADO DE SÃO PAULO

SÃO PAULO: Recebi a Ordem do Mérito do Ipiranga, do Governo do Estado.

SÃO PAULO: A Câmara Municipal da Cidade de São Paulo concedeu-me a Medalha Anchieta e o Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo.

SÃO PAULO: O Instituto Presbiteriano Mackenzie, da Capital, distinguiu-me com o título de “Antigo Aluno Emérito do Mackenzie, pelos inestimáveis serviços prestados a São Paulo em sua Profissão e no campo da Cidadania”.

JAÚ: Membro do Conselho Curador da “Fundação Doutor Amaral Carvalho”, mantenedora do “Hospital Amaral Carvalho”.

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Sócio de muitas entidades culturais e cívico-culturais do Brasil.

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LIVROS

1) Publicados:

1°) “Nos sertões do lendário Rio das Mortes” (1946)
2°) “Terras e índios do Alto Xingu” (1952)
3°) “Cenas da vida indígena” (1952)
4°) “História da Civilização Brasileira” — em co-autoria com Tito Livio Ferreira (1960)
5°) “Nas selvas amazônicas” (1960)
6°) “O mistério do ouro dos Martírios” (1960)
7°) “A Maçonaria na Independência Brasileira” — em co-autoria com Tito Livio Ferreira (1961)
8°) “A Ferrovia do Diabo” (História da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré) (1962)
9°) “A causa do subdesenvolvimento do Brasil” (1963)
10°) “Ciência do desenvolvimento econômico” (1965)
11°) “A ideologia política da Independência” (1972)
12°) “Expedição científica aos Martírios” (1973)
13°) “Os escravos mecânicos” (1975)
14°) “História dos sistemas eleitorais brasileiros” (1976)
15°) “As Bandeiras do Paraupava” (1977)
16°) “As repúblicas municipais no Brasil” (1980)
17°) “A revisão da História do Brasil” (1983)
18°) “Aspectos do Xingu e a Vera Cruz” (1983)
19°) “Do Big Bang à civilização atual” (1983)
20°) “História do Brasil Documentada” — 1500/1822 (1996)
21°) “História dos Irmãos Villas Boas” (1997)
22°) “História do Urbanismo no Brasil — 1532/1822” (1999)
23°) “O 2° Descobrimento: o Interior” (2000)

2°) A Publicar:

1°) “A Lagoa Dourada”
2°) “Brasil-Colônia nunca existiu”
3°) “Riqueza Pobreza e História”

Nota: todos os livros publicados e a publicar, não são cópias de nenhuns outros, pois constituem minhas pesquisas pessoais na Documentação.

Na página seguinte, o Posfácio da Jornalista ANA ARANDA (do “Diário da Amazônia” de Porto Velho), que ainda não pudemos nos conhecer pessoalmente, só por breves contatos telefônicos.


 

Posfácio

NA FRENTE DO SEU TEMPO

Por ANA ARANDA
Jornalista

Encarregada em 2001 de editar o “Jornal da Amazônia”, em Porto Velho, uma série de reportagens escrita e fotografada pelo historiador e jornalista Manoel Rodrigues Ferreira originalmente publicada no jornal “A Gazeta”, de São Paulo, em 1960, tive a oportunidade única e privilegiada de reconhecer um retrato detalhado e vivo de um tempo único para a História do hoje Estado de Rondônia. Lá encontrei, emocionada, um alerta sobre a decadência da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, e um apelo para a sua restauração embasada nos números de uma administração e uma economia decadentes e no relato dramático dos sobreviventes da construção da Estrada, pessoas que morreram sem terem tido outra oportunidade de contar o que viram e sofreram no canteiro de construção da Ferrovia e no Hospital da Candelária, de cujas janelas as cruzes que se multiplicavam no Cemitério e que já em 1959, esquecido encontrava-se escondido na mata, conforme relata Manoel Rodrigues Ferreira. Lá também estavam os números que os ingleses meticulosamente registram sobre os homens de várias nacionalidades que se aventuraram na Amazônia para realizar a grande epopéia da construção da Ferrovia.

Com texto ágil, simples e direto, o jornalista faz um relato dramático da vida dos seringueiros, que na época produziam a borracha em regime de semi-escravidão. E nos apresenta os empresários que movimentavam a economia do ex-Território Federal, assim como a pacata população que habitava os dois únicos municípios — Porto Velho e Guaiará Mirim — localizados nas duas extremidades da Madeira-Mamoré. A beleza do Guaporé e o misterioso Real Forte do Príncipe da Beira também foram alvos da reportagem.

Impressiona na série de reportagens os ângulos e a emoção captada pela máquina fotográfica do jornalista que descobria um mundo novo, dando visibilidade a uma região que na época era praticamente desconhecida do resto do Brasil. E entre os seus leitores nada menos do que o Presidente da República, Juscelino Kubtscheck, que através das reportagens se conscientizou sobre a necessidade de unir a longínqua Rondônia ao sul do País, através da conclusão da Rodovia BR-29, hoje BR-364.

A reedição de reportagens feitas há mais de quarenta anos não exigiu nada além da elaboração de títulos e legendas para as fotos, tarefas, aliás, imprescindíveis para nova edição de qualquer material jornalístico. Manoel Rodrigues Ferreira nas reportagens, que deram origem ao livro “Nas Selvas Amazônicas”, mostra-se um jornalista à frente do seu tempo, que tem como prova incontestável do seu valor, a enorme repercussão do seu trabalho entre a população de Rondônia em 2001, quando o material foi republicado no Diário da Amazônia.

Porto Velho, Abril de 2003


 

 

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Dezembro 2005

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